Comum adj. 2g. 1. De todos ou muitos; geral. 2. Habitual; usual; costumeiro. 3. Vulgar; banal; ordinário. 4. Feito em sociedade ou comunidade.
O que se pode refletir sobre a expressão “pessoa comum”?
Se nos considerarmos pessoas comuns, estamos em quais “setores” da sociedade?
O que pode(ria)mos ser/fazer, sendo pessoas quaisquer, sendo um Zé ninguém?
Talvez eu possa contribuir para se pensar sobre isto, uma vez que me considero um “qualquer”. Num primeiro momento, me vem à cabeça que o comum é oposto do famoso, do especial, do extraordinário, do destacado, etc. Celebridades, artistas, “intelectuais”, cientistas, médicos, políticos, grandes líderes e afins, de acordo com minha formação como pessoa, não são comuns, não são os “qualquer um”. Os comuns seriam os desconhecidos, os que não figuram nos jornais, na televisão, nas revistas entre outros meios de comunicação massivos (e maçantes). Dependendo, podem ser às vezes, as maiorias ou as minorias. São os desempregados e empregados que ganham pouco, se comparados com aqueles que citei acima. São aqueles que podem ser mais um número na associação a um partido, mais um número nos insatisfeitos (acho que quase todos), e mais um número nas filas de lojas e hospitais, e mais um nas estatísticas, sejam elas de mortos ou de vivos que não vivem. Podem ser sonhadores e lutadores que carregam a marca da angústia. Podem ser padeiros, mecânicos, professores, estudantes, mendigos etc. e até os artistas que citei antes, dependendo da sua visibilidade. É como se o que determinasse o quanto “comum” e o quanto “extraordinário” você é, fosse seu currículo, prestígio e dinheiro, não necessariamente nessa ordem. É claro que todos são muito mais do que "isto" ou "aquilo" que eu possa dizer aqui, ninguém (nenhum ser vivo) deveria ser reduzido a um nome, rotulo, papel, utilidade.
Talvez o “qualquer” não seja só visto como o oposto do famoso, do extraordinário, mas em certos momentos, o oposto do importante. Um pouco neste sentido, pode se encaixar, por exemplo, a grande valorização que fazemos sobre cursar um curso na universidade. É fácil de perceber que o ensino FUNDAMENTAL recebe menos prestígio que o SUPERIOR. Não sei se fui claro. É engraçado (talvez não) pensar que o que se chama de superior chame mais atenção das pessoas do que o que é tido como fundamental. Mesmo sendo o ensino fundamental considerado teoricamente o mais importante, não é tão “legal”, e nem tão importante em certos momentos (ou a toda hora) quanto o superior. Em pequenas situações do dia-a-dia isto pode ser percebido. Uma experiência minha estes tempos deixa isto bem claro. Foi assim:
Eu e um amigo estávamos participando de um passeio ciclístico, e resolvemos entregar uns panfletos com o objetivo de incitar a reflexão coletiva e informal. Entregamos para algumas pessoas e, ao entregar para uma destas, fomos perguntados: “Mas de onde vocês são?”. Então respondemos o nome do nosso bairro, e ela (a pessoa) continuou: “O que vocês fazem?”. E nós: “Como assim?” e ela explicou: “Tá, mas qual curso vocês fazem?”. Eu e meu amigo ficamos quase que rindo da situação, pois não sabíamos o que responder.
Entendo que nesta ocasião esteja evidenciado o prestígio que se dá às pessoas que tenham algum diploma. Isto é visível. Mas o intrigante é pensar que em uma conversa informal na rua, as pessoas (comuns) necessitem de distintivos, currículos, entre outros pré-requisitos, para se relacionarem. Uma conversa não (?) é uma entrevista de emprego, ou de associação para um grupo!!! Uma possível explicação para esta forma de ver as coisas está na idéia de que um estudante de um curso de nível superior está se encaminhando para ser alguém mais importante socialmente, do que era antes de cursar a faculdade. Está tentando “ser alguém na vida”.
Somos forçados a querer “ser alguém”. Ser uma pessoa com força de vontade e que vive a vida. O ruim é ser um ninguém. Somos convencidos de que nós, os ninguéns, não podemos ser decisivos na construção da vida em sociedade. Isto se deve em parte, a ideia de que simplesmente não somos capazes. Os que são capazes são os grandes, os ilustres, os celebres. Então, estando condenados à submissão, absorvemos o pensamento de nos conformarmos, ao mesmo tempo em que reclamamos, vivendo de acordo com o modo de vida que nos dá insatisfação. Compensados pelos momentos de “prazer” que são determinados como os únicos pra nós, geralmente os que nos deixam em posição de mandar, ter, ou saber, mais que as pessoas a nossa volta.
Só consigo ver este pensamento assim: “Ser alguém na vida” é ter estabilidade financeira. É destacar-se. É, quem sabe, assumir cargos mais elevados. É dar o seu melhor, para ser melhor, que os outros, é claro. É ser influente. Como nos outdoors, que dizem quais sonhos devemos ter. É ter uma vida honesta, sempre competindo deslealmente. É dar discursos. Dentro de uma imensa massa de trabalhadores, consumidores, espectadores, desejar SEMPRE cada vez mais progredir. Tentar conseguir um trabalho melhor (um salário melhor). Tentar poder comprar mais coisas melhores (mais caras). Tentar “estar por dentro” dos meios que determinam sua vida. Sentados perto ou longe dos atores, aplaudindo ou vaiando, somos meros espectadores.
Mas, é preciso lembrar que as coisas não SÃO assim. As coisas ESTÃO assim. Isso muda tudo. É preciso tentar descobrir de onde vem esta visão a qual somos condenados. Somos pessoas que PODEM aprender umas com as outras e por si próprias. O potencial de transformação que uma conversa animada entre amigos pode ter é gigantesco. Ninguém pode controlar as idéias livres. A pessoa comum é a mais forte, na medida em que a sua vida é como se fosse a de qualquer outra, o que capacita qualquer pessoa de fazer qualquer coisa que viu, e recriá-la. Pessoas que se conhecem podem criar uma infinidade de possibilidades de atividade para suas vidas e, conseqüentemente, influenciar outras, ao mesmo tempo em que sofrem influência. A pichação de um muro; uma conversa reflexiva; um olhar atento e humilde sobre onde estamos e o que estamos fazendo (e queremos fazer) aqui; a espontaneidade e a organização; o perguntar, duvidar; o ENCONTRO entre seres humanos condenados pelo meio em que nasceram e a sua conseqüente indignAção, são formas de mudar as coisas, mudanças que não podem e nem poderiam ser impedidas ou medidas. Zé ninguém=Alguém na vida
Matheus
Sobre este espaço
"Existem maneiras de pensar, agir e viver que possam ser mais satisfatórias, emocionantes, e principalmente dignas, do que as formas como pensamos, agimos e vivemos atualmente?"
Um de nossos tantos desejos... Se algum material que colocamos aqui, de alguma forma, estimular você a pensar ou sentir algo, pedimos de coração para que você use estas ideias. Copie, mude, concorde, discorde. A intenção deste blog é incentivar o questionamento e a intervenção das pessoas na sociedade. Pegue os textos, tire xerox, CONVERSE mais, faça por você, faça por todos nós, faça por ninguém. E se quiser, entre em contato(conosco, c/ qualquer um, com o meio, c/ a natureza...) Coletiva e humilde-mente - vive em paz, revolte-se!
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domingo, 30 de janeiro de 2011
Sou um qualquer. Sou alguém
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Mais um post muito bom. Eu faço um curso que, mesmo que seja muito pequeno (13 pessoas, 1 professor) e não seja reconhecido, mostra o quanto poderíamos aprender se houvesse seriedade na educação. E mostra também o quanto a academia está doente. Uma das aulas foi precisamente sobre isso, sobre o fato de que todo mundo vai para faculdade para "ser alguém na vida", e sai sem saber qual é o sentido da vida. Porque lá ele não é formado para a vida, ele é formatado para o trabalho, para a perspectiva de aquisição.
ResponderExcluirNós quase sempre somos definidos por nossa profissão, e isso apaga a pessoa. Mas é possível valorizar a pessoa. Difícil, mas possível. Podemos descobrir que por trás de todas as pessoas que se dizem especiais há pessoas comuns, e por trás de algumas pessoas comuns há pessoas únicas. O problema é quando essas pessoas não querem ser quem elas são, quer ser outras, querem estar do a luz dos holofotes. Ser alguém significa não ser qualquer um, para esta cultura. Você está valorizando a pessoa. Isso é muito bom.
As pessoas querem se destacar, e não percebem que isso gera exclusão. Por outro lado não somos todos iguais em todos os sentidos. Somos comuns e únicos ao mesmo tempo. A civilização também usa esses dois termos, mas numa relação excludente.
Legal esta ideia de que há algo especial no comum, e vice-e-versa, concordo. Talvez exista um problema quando somos levados a querer ser melhor que os outros, ao invés de ser melhor para os outros, ou com os outros. Status, prestígio, poder como coisas que nos trazem prazer... é complicado.
ResponderExcluirObrigado por comentar, continuemos em contato. Abraço.