Sobre este espaço

"Existem maneiras de pensar, agir e viver que possam ser mais satisfatórias, emocionantes, e principalmente dignas, do que as formas como pensamos, agimos e vivemos atualmente?"


Um de nossos tantos desejos... Se algum material que colocamos aqui, de alguma forma, estimular você a pensar ou sentir algo, pedimos de coração para que você use estas ideias. Copie, mude, concorde, discorde. A intenção deste blog é incentivar o questionamento e a intervenção das pessoas na sociedade. Pegue os textos, tire xerox, CONVERSE mais, faça por você, faça por todos nós, faça por ninguém. E se quiser, entre em contato(conosco, c/ qualquer um, com o meio, c/ a natureza...) Coletiva e humilde-mente - vive em paz, revolte-se!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

HÁ QUE ACABAR COM TUDO ISTO! Por Anti-Authoritarians Anonymous


A atual realidade está formada, como nunca esteve, de imensas tristezas e de cinismo: “uma grande lágrima no coração da humanidade”, como disse Richard Rodriguez. O quotidiano vê aumentar a sua dose de horrores sem cessar acompanhada por um apocalipse rompante do meio ambiente. A alienação dos espíritos e os poluentes químicos disputam o predomínio na dialética da morte que rege a vida de uma sociedade dividida e gangrenada pela tecnologia. O câncer, desconhecido antes da civilização, transformou-se numa epidemia numa sociedade cada vez mais estéril e literalmente maligna.

Repentinamente, todos estarão usando drogas; sejam administradas sob regras ou vendidas sob contrabando, isto apenas é uma distinção formal. O Transtorno de Déficit de Atenção é um exemplo do esforço opressivo para medicar a angústia e agitação generalizada causadas por uma vida-mundo cada vez mais atrofiada e insatisfatória. A ordem dominante fará, evidentemente, todo o possível por negar a realidade social. A sua tecnopsiquiatria considera o sofrimento humano como de natureza biológica e de origem genética.

Novas patologias, resistentes à medicina industrial estendem-se à escala planetária da mesma forma que o fundamentalismo (Cristão, Judaico, Islâmico) - sintoma de um sentimento profundo de miséria e frustração. Aqui em casa a espiritualidade New Age (a “filosofia para estúpidos", segundo Adorno), assim como as inumeráveis terapias alternativas, deleitam-se em vãs ilusões. Pretender que pode-se estar completo/iluminado/curado no seio da loucura atual é, de fato, aceitar esta loucura.

O fosso entre ricos e pobres alarga-se, particularmente, nesta terra de sem-tetos e presidiários. A cólera aumenta e as negações em massa, fundamentos da sobrevivência do sistema, estão tendo, no mínimo, um sono conturbado. Este mundo, onde reina a falsidade, encontra apenas a adesão que merece: a desconfiança em direção às instituições é quase absoluta. Mas a vida social parece congelada, e o sofrimento dos jovens é sem dúvida o mais profundo. A taxa de homicídios entre adolescentes de 15 a 19 anos duplicou entre 1985 e 1991. O suicídio transformou-se em reação de procura de cada vez mais adolescentes, que evidentemente não conseguem imaginar a maturidade em um lugar como esse.

A cultura esmagadoramente difundida é uma cultura fast-food, desprovida de conteúdo ou compromisso. Como Dick Hebdige apropriadamente julgou, “a pós-modernidade é a modernidade sem as esperanças e sonhos que tornaram a modernidade suportável”. O pós-modernismo se anuncia como pluralista, tolerante e não dogmático. Na prática, é um fast-forward deliberadamente confuso, fragmentado, obcecado pela mídia, analfabeto, fatalista, excrescência acrítica, indiferente às questões de origens, agência, história ou causalidade. Ela não questiona nada de importante e é a expressão perfeita de uma configuração que é estúpida e suicida, e quer levar-nos com ela.

A nossa época pós-moderna encontra a sua expressão essencial no consumismo e na tecnologia, que dão aos mass media a sua força estupefaciente. Imagens e slogans impactantes e fáceis de digerir impedem de ver o show de horror da dominação que é mantido por este tipo de entretenimento, imagens e frases de fácil digestão. Inclusive os enganos mais flagrantes da sociedade podem servir para esta empresa de hipnose coletiva, como é o caso da violência, fonte de infinitas diversões. Seduzem-nos as representações de comportamentos ameaçantes, o que sugere que o aborrecimento é uma tortura ainda maior que o espanto.

A natureza, ou o que resta dela, serve como um lembrete amargo de quão deformada, insensível e fraudulenta é a existência contemporânea. A morte do mundo natural e a penetração da tecnologia em todas as esferas da vida, ou o que resta dela, desenvolvem-se a um ritmo cada vez mais rápido. A multidão informaticamente conectada, os marginais tecnóides, os ciber-não-importa-quê, a realidade virtual, a inteligência artificial, etc... Até chegar à Vida Artificial, última ciência pós-moderna.

Entretanto, a nossa Era da Computação "pós-industrial" tem como principal consequência a nossa transformação acelerada num "apêndice da máquina", como se dizia no século XIX. As estatísticas do FBI indicam, todavia, que as empresas, cada vez mais informatizadas, são o teatro de cerca de um milhão de delitos violentos por ano, e que o número de patrões assassinados duplicou nos 10 últimos anos.

Esse arranjo hediondo, em sua arrogância, espera que as suas vítimas se contentem em votar, reciclar os seus resíduos e fingir que tudo vai ficar bem. Para usar uma linha de Debord, “o espectador é somente suposto, não tem de saber nada e não merece nada”.

A civilização, a tecnologia e as divisões sociais que dilaceram a sociedade, são componentes de um todo indissolúvel, uma viagem para a morte que é fundamentalmente hostil às diferenças qualitativas. A nossa resposta terá de ser qualitativa, sem fazer caso dos eternos paliativos quantitativos que reforçam, de fato, aquilo que queremos abolir.


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(Panfleto de Anti-Authoritarians Anonymous, Eugene, 1995.)
Fonte: Actions Speak Louder Than Words - Derrick Jensen
Tradução: Coletivo Erva Daninha

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