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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

TEXTO: Veganismo e Domesticação - Eduardo Morari

Texto extraído do zine virtual Erva Daninha. Este texto pode ser interessante por trabalhar de forma simples e direta a questão da domesticação dentro da filosofia vegana.

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VEGANISMO E DOMESTICAÇÃO
A domesticação é prejudicial do ponto de vista evolutivo - a busca de uma maneira mais eficiente, confortável e prazerosa de viver resulta em adaptações e isso podemos dizer que é a tal evolução. A dependência de menos recursos (necessidade de estar constantemente em busca de alimento) e menos gasto de energia é algo que estimula a evolução.
A domesticação (de animais, por exemplo) limita, molda e controla as características e capacidades dos animais aos caprichos de outro animal (no caso o homem).
A domesticação é pegar para si a função de provedor das condições essenciais para que uma determinada espécie sobreviva. Do ponto de vista da "eficiência evolutiva" é algo extremamente prejudicial e atrofiante. Trabalhar, gastar tempo e energia para criar condições de vida para que uma espécie sobreviva e se reproduza, recriar condições que podem ocorrer naturalmente.
A domesticação é prejudicial tanto para o domesticador quanto para o ser domesticado seja animal, ou até mesmo plantas.
Na domesticação, além de alienar a sua própria liberdade, você força uma espécie a viver um modo de vida alienado.

Faça uma visita a uma fazenda ou folheie uma revista de agropecuária e repare quanto trabalho, energia e recursos naturais são gastos para a domesticação, quantas doenças e pragas devem ser controladas, quantas pessoas devem ser empregadas em trabalhos medíocres, quanta tecnologia deve ser aplicada. Os domesticadores realmente tem uma vida trabalhosa, cansativa, monótona e extremamente cruel (sobre isso poderíamos mencionar as atrocidades cotidianas cometidas contra os animais). Nenhum genocídio humano pode ser comparado ao cometido contra os animais (se é que ambos podem ser comparados).

A domesticação é uma violência como qualquer outra, não aparenta ser uma violência física (embora no processo de domesticação a violência física é regra) pode não causar dor constantemente, mas sabemos muito bem que violência não é apenas provocar dor, violência é também limitar, coagir, privar, manipular, ameaçar, controlar. Não existe domesticação sem estas práticas. A partir disso percebe-se que a libertação animal e a libertação humana é um projeto comum.

A violência causada pela domesticação não atinge somente os indivíduos domesticados, atinge toda uma espécie. É uma violência contra a espécie.
Os gatos domesticados por exemplo - sua capacidade de visão noturna, suas garras, seu olfato apurado, toda sua anatomia, enfim, todo esse aparato que surgiu graças ao modo de viver dos felinos ancestrais, que viveram por gerações e gerações de maneira livre e selvagem, com a domesticação todas essas características são desperdiçadas, violentadas, são negadas quando um gato é castrado e tomado como um objeto por alguém que se julga dono. São milhares de anos de evolução jogados no lixo. E acredite, se os bichanos tivessem a escolha de poder viver novamente de modo livre e selvagem, não tenha duvida de que escolheriam esta opção. O que não significa que não teriam mais relações com humanos.
Um animal domesticado é um animal dependente, limitado pelas paredes da casa, e pelas eventuais janelas abertas, um animal domesticado é transformado involuntariamente em um parasita, toda sua anatomia e seus antepassados são anulados a cada geração que passa, e assim perpetua a domesticação de sua espécie, perpetua a negação de seus atributos naturais.
É muito angustiante ver um animal dotado dos mais variados e eficientes atributos físicos e psicológicos para viver uma vida integra, ter que esperar seu dono trocar sua água, trazer sua comida enlatada, seu ração seco industrializado, ou caso sempre tenha comida, ter que enfrentar uma rotina mórbida, pois não é capaz nem de sentir a vontade de caçar, é privado da vontade de buscar alimento e de suas possíveis aventuras, animais domésticos significa potencial sendo desperdiçado.
Creio que o cão e o gato esboçam algo como uma pergunta, da maneira deles: "o que esta errado? Tenho esse corpo, essas vontades, essa capacidade de sentir cheiros, essa força nas patas, mas minha vida é tão parada, tão monótona, não condiz com o que sinto, o que esta errado?"

O veganismo (e qualquer outro movimento anti-autoritário) deve estender sua critica contra a domesticação, pela sua violência sutil e não menos destruidora. A domesticação transforma outra espécie, durante gerações, em refém dos caprichos humanos.

Muitos de nós nos encontramos na situação de ter animais em casa (muitas vezes resgatados da rua ou de outras situações de risco), e realmente amamos esses animais, realmente criamos uma relação com essas criaturas. E é nessa situação que podemos observar e entender, na prática, como a sociedade de massas, como a domesticação afeta as outras espécies e não só a espécie humana. E nessa condição, pelo amor que temos pelos animais, teremos a oportunidade de oferecer as condições para que nosso amigo experimente a liberdade, para que experimente as características de sua espécie de forma integra. Vamos literalmente re-conhecer esses animais e também nos re-conhecer, entenderemos que selvagem , liberdade e felicidade são sinônimos. E com essa experiência podemos encontrar caminhos para uma re-conecção com o selvagem, aperfeiçoando estratégias e maneiras de incentivar o livre curso da vida, contribuindo assim com o projeto de desmantelamento de toda esta loucura chamada civilização. Uma verdadeira prova de amizade com todos os animais.

Veganismo ao meu ver é a critica e a pratica contra todo tipo de opressão aos animais. Domesticação significa violência. O veganismo deve buscar uma estratégia de luta contra todas as formas de violência, o que inclui buscar maneiras de combater e de viver livre das praticas domesticadoras. A Libertação humana e animal fazem parte do mesmo projeto.

Eduardo Morari - Coletivo Erva daninha - iniciativa anti-civilização


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Ass: MagrO

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