Sobre este espaço

"Existem maneiras de pensar, agir e viver que possam ser mais satisfatórias, emocionantes, e principalmente dignas, do que as formas como pensamos, agimos e vivemos atualmente?"


Um de nossos tantos desejos... Se algum material que colocamos aqui, de alguma forma, estimular você a pensar ou sentir algo, pedimos de coração para que você use estas ideias. Copie, mude, concorde, discorde. A intenção deste blog é incentivar o questionamento e a intervenção das pessoas na sociedade. Pegue os textos, tire xerox, CONVERSE mais, faça por você, faça por todos nós, faça por ninguém. E se quiser, entre em contato(conosco, c/ qualquer um, com o meio, c/ a natureza...) Coletiva e humilde-mente - vive em paz, revolte-se!

sábado, 25 de janeiro de 2014

A SUSTENTABILIDADE ESTÁ DESTRUINDO A TERRA por Kim Hill


Não fale comigo sobre sustentabilidade. Você quer questionar a minha vida, o meu impacto, a minha pegada ecológica? Há um monstro de pé sobre nós, com uma pegada tão grande que pode pisar o planeta inteiro sob os pés, sem perceber ou se importar. Este monstro é a Civilização Industrial. Recuso-me a sustentar o monstro. Para a Terra viver, o monstro deve morrer. Esta é uma declaração de guerra.

O que estamos tentando sustentar? Um planeta vivo ou a civilização industrial? Não podemos ter os dois.

Em algum lugar ao longo de seu caminho, o movimento ambientalista – com base em um desejo de proteger a Terra - foi em grande parte engolido pelo movimento da sustentabilidade - baseado em um desejo de manter nosso estilo de vida confortável. Quando e por que isso aconteceu? E como é possível que ninguém tenha percebido? Esta foi uma mudança fundamental nos valores, indo de compaixão por todos os seres vivos e pela terra, para um desejo egoísta de se sentir bem em relação ao nosso modo de vida inerentemente destrutivo.

O movimento por sustentabilidade diz que nossa capacidade de suportar é de responsabilidade dos indivíduos, que devem fazer escolhas de estilo de vida no âmbito das estruturas da civilização. Alcançar uma cultura verdadeiramente sustentável por este meio é impossível. A infraestrutura industrial é incompatível com um planeta vivo. Para a vida na Terra sobreviver, as estruturas políticas e econômicas globais precisam ser destruídas.

Defensores da sustentabilidade nos dizem que reduzir nosso impacto, causar menos danos à Terra, é uma coisa boa a se fazer e que nos sentiremos bem com nossas ações. Eu discordo. Menos dano não é bom. Menos dano ainda é muito dano. A não ser que nenhum dano mais seja causado, por qualquer pessoa, não pode haver sustentabilidade. Sentir-se bem com pequenos atos não ajuda ninguém.

Apenas um quarto de todo o consumo é realizado por indivíduos. O resto é realizado pela indústria, agronegócio, exército, governos e corporações. Ainda que todos nós fizéssemos todo o esforço para reduzir nossa pegada ecológica, isso ainda faria apenas uma pequena diferença no consumo total.

Se as ações de estilo de vida defendidas realmente tivessem o efeito de manter nossa cultura de pé por mais tempo do que de outra forma, então elas iriam causar ainda mais dano ao mundo natural do que se tais medidas não fossem tomadas. Quanto mais tempo uma cultura destrutiva for sustentada, mais estrago ela causa. O título desse artigo não é apenas para chamar atenção e gerar polêmica, ele é, literalmente, o que está acontecendo.

Quando enquadramos o debate da sustentabilidade em torno da premissa de que as escolhas de estilo de vida dos indivíduos são a solução, então o inimigo se torna outros indivíduos que fizeram escolhas de vida diferentes e aqueles que não têm o privilégio de escolher. Enquanto isso o verdadeiro inimigo – a estrutura opressiva da civilização – está livre para continuar suas práticas destrutivas e assassinas sem nenhuma oposição. Essa não é uma maneira eficaz de criar um movimento social significativo. Dividir para ser conquistado.

A sustentabilidade é popular entre as corporações, mídia e governo porque ela se encaixa perfeitamente em seus objetivos. Mantêm o poder e o crescimento. Faz de você um bom rapaz. Faz com que as pessoas acreditem que elas têm poder quando na verdade não têm. Diz a todos para se manterem calmos e seguirem comprando. Controla a linguagem que é usada para debater as questões. Ao criar e reforçar a crença de que votar em pequenas mudanças e comprar mais coisas irá resolver todos os problemas, aqueles que estão no poder têm uma estratégia altamente efetiva para manter o crescimento econômico e a democracia controlada pelas corporações.

Aqueles que estão no poder mantêm as pessoas acreditando que a única maneira que temos de mudar qualquer coisa é dentro das estruturas que eles mesmo criaram. Eles constroem essas estruturas de forma que as pessoas nunca possam mudar qualquer coisa dentro delas. Voto, petições e manifestações todas essas práticas reforçam as estruturas de poder e nunca poderão fazer mudanças significativas sozinhas. Essas táticas dão uma escolha para as corporações e governos. Estamos dando àqueles que estão no poder a escolha de aceitar ou recusar nosso pedido por reformas mínimas. Animais em fazendas industriais não têm escolha. Milhões de pessoas que trabalham suando em fábricas na maior parte do mundo não têm escolha. As 200 espécies que foram extintas hoje também não tiveram escolha. E ainda assim damos uma escolha aos responsáveis por todos esses assassinatos e sofrimento. Estamos colocando os desejos de uma minoria rica acima das necessidades da vida na Terra.

A maioria das ações mais populares que os defensores propõem para alcançar a sustentabilidade não têm efeito real, e algumas ainda causam mais danos do que benefícios. As estratégias incluem reduzir o consumo de energia elétrica, reduzir o uso de água, criar uma economia verde, reciclagem, construções sustentáveis e fontes de energia eficientes e renováveis.

Energia elétrica

Nos dizem para reduzirmos nosso consumo de energia elétrica ou obtê-la a partir de fontes alternativas. Isso não fará nenhuma diferença para a sustentabilidade de nossa cultura como um todo, porque a rede elétrica é inerentemente insustentável. Nenhuma quantidade de redução ou as auto-intituladas fontes renováveis de energia vão mudar isso. Mineração para produzir fios elétricos, componentes, dispositivos elétricos, painéis solares, turbinas eólicas, usinas geotérmicas, fornos de biomassa, hidrelétrica e qualquer outra coisa que seja ligada à rede elétrica, são todas insustentáveis. A fabricação de todas essas coisas, com toda a exploração humana, poluição, desperdício, impactos na saúde e na sociedade geram lucros corporativos. Combustíveis fósseis são necessários para manter todos esses processos em andamento. Insustentável. Nenhuma quantidade de escolhas individuais de estilo de vida com relação ao uso e produção de energia elétrica vai mudar isso. Energia elétrica fora da rede elétrica também não é diferente – ela precisa de baterias e inversores.

Conservação da água

Banhos mais curtos. Chuveiros de baixo fluxo. Restrições ao uso de água. Tudo isso é exaltado como se pudessem fazer A diferença. Enquanto toda a infraestrutura que fornece essa água – grandes barragens, dutos de longa distância, bombas, esgotos, fossas – é totalmente insustentável.

Barragens destroem a vida de uma bacia hidrográfica inteira. É como bloquear uma artéria, impedindo que o sangue flua para seus membros. Ninguém pode sobreviver a isso. Rios morrem quando os peixes são impedidos de viajar de lá para cá neles. Toda a comunidade natural à que esses peixes pertencem morre, tanto a montante quanto à jusante da barragem.

Barragens causam um rebaixamento do nível de água, tornando impossível para que as raízes das árvores cheguem à água. Zonas alagadas dependem de alagamentos sazonais e colapsam quando barragens acima do rio impedem isso. Resultam em erosão do fundo e das margens. A decomposição anaeróbica de matéria orgânica em barragens libera metano para a atmosfera.

Não importa o quão eficientemente você usa sua água, essa infraestrutura nunca será sustentável. Isso precisa ser destruído para permitir que essas comunidades se regenerem.

Economia verde

Empregos verdes. Produtos verdes. Uma economia sustentável. Não. Esse tipo de coisa não existe. A totalidade da economia global é insustentável. A economia funciona com a destruição do mundo natural. A Terra é tratada como nada mais do que combustível para o crescimento econômico. Chamam isso de recursos naturais. E a escolha de algumas pessoas por se retirar dessa economia não faz diferença. Enquanto essa economia existir, não haverá sustentabilidade.

Enquanto qualquer uma dessas estruturas existir: energia elétrica, redes de fornecimento de água, economia globalizada, agricultura industrial – não haverá sustentabilidade. Para alcançar uma verdadeira sustentabilidade, essas estruturas precisam ser desmontadas.

O que é mais importante para você – sustentar um estilo de vida confortável por mais algum tempo ou a continuação da vida na Terra, para as comunidades naturais que ainda restam e para as futuras gerações?

Reciclagem

Somos levados a acreditar que comprar um determinado produto é bom porque a embalagem pode ser reciclada. Você pode optar por jogar ela em uma lixeira colorida. Não importa que ecossistemas frágeis estejam sendo destruídos, comunidades indígenas sendo deslocadas, pessoas em lugares distantes precisem trabalhar em condições de escravidão, que rios sejam poluídos, tudo só para que essa embalagem exista. Não importa que ela seja reciclada para se tornar outro produto inútil que irá, em seguida, para o lixão. Não importa que para reciclar isso seja necessário transportá-la para longe, usando maquinário que funciona com energia elétrica e combustíveis fósseis, causando poluição e desperdício. Não importa que se você colocar algo na lixeira com a cor errada, toda a carga vai para um lixão devido à contaminação.

Construções sustentáveis

Princípios da construção sustentável: construir mais casas, mesma que já existam casas perfeitamente boas suficiente para todos morar. Limpar a terra para construir casas, destruindo cada coisa viva que antes vivia nessa comunidade natural. Construir com madeira proveniente de florestas plantadas, que exige que as florestas nativas sejam exterminadas para que possam ser substituídas por uma monocultura de pinos onde nada mais pode viver. Usar materiais de construção que são um pouco menos prejudiciais do que outros materiais. Convencer as pessoas de que tudo isso é benéfico para a Terra.

Painéis solares

Painéis solares. A mais recente onda na moda da sustentabilidade. E no verdadeiro estilo sustentável, incrivelmente destrutivos para a vida na Terra. De onde vêm essas coisas? Você deveria acreditar que eles são feitos do nada, uma fonte de energia livre e não poluente.

Se você ousar perguntar de onde vêm os painéis solares, e como eles são feitos, não será difícil descobrir a verdade. Painéis solares são feitos de metais, plásticos, terras raras, componentes eletrônicos. Eles exigem mineração, fabricação, guerra, desperdício, poluição. Milhões de toneladas de chumbo são despejadas em rios e terras agrícolas em torno das fábricas de painéis solares na China e na Índia, causando problemas de saúde para os humanos e para as comunidades naturais que ali vivem. O polisilicone é outro produto residual venenoso e poluente que é despejado na China. A produção de painéis solares faz com que trifluoreto de nitrogênio (NF3) seja emitido para a atmosfera. Esse gás tem 17.000 vezes o potencial de aquecimento global do dióxido de carbono.

As terras raras vêm da África, e guerras estouram pelo direito de escavar suas minas. Pessoas estão sendo mortas para que você tenha a sua confortável Sustentabilidade. Os painéis são fabricados na China. As fábricas emitem tanta poluição que as pessoas que vivem nas proximidades ficam doentes. Lagos e rios morrem com a poluição. Essas pessoas não podem beber a água, respirar o ar ou cultivar a terra, como resultado direto da fabricação de painéis solares. Sua sustentabilidade é tão popular na China que os aldeões mobilizam-se em massa em protesto contra a fabricação desses painéis. Eles estão se unindo para invadir as fábricas e destruir os equipamentos, forçando as fábricas a fechar. Eles valorizam suas vidas mais do que a sustentabilidade dos ricos.

Painéis duram cerca de 30 anos, então vão direto para o lixão. Mais poluição, mais lixo. Algumas partes dos painéis solares podem ser recicladas, mas outras não, e ainda têm o bônus de serem altamente tóxicas. Para serem reciclados, os painéis solares precisam ser enviados para países onde trabalhadores de baixa renda são expostos a substâncias tóxicas no processo de desmontagem. O próprio processo de reciclagem requer energia e transporte, além de gerar produtos residuais.

A indústria de painéis solares é encabeçada pela Siemens, Samsung, Bosch, Sharp, Mitsubishi, BP, Sanyo, entre outros. É para eles que as isenções fiscais para painéis solares e as contas para energia verde estão indo.

Energia eólica

O processamento de metais lantanídeos (terras raras) necessário para a produção de imãs para as turbinas eólicas acontece na China, onde as pessoas das aldeias vizinhas lutam para respirar o ar altamente poluído. Um lago de cinco milhas de largura de lodo tóxico e radioativo agora toma o lugar de suas terras.

Cadeias de montanhas inteiras são destruídas para a extração dos metais. Florestas são derrubadas para erguer turbinas eólicas. Milhões de aves e morcegos são mortos pelas lâminas. A saúde de pessoas que vivem perto das turbinas é afetada pelos ruídos.

Como o vento é uma fonte de energia inconsistente e imprevisível, é necessário um gás de back-up para disparar a fonte de alimentação. Como o sistema de back-up só funciona de forma intermitente, é menos eficiente, por isso produz mais CO2 do que se ele estivesse sendo executado constantemente, se não houvesse turbinas. A energia eólica soa muito bem na teoria, mas não funciona na prática. Outro produto inútil que não beneficia ninguém, a não ser os acionistas.

Eficiência energética

E se nós melhorarmos a eficiência energética? Isso não pode reduzir a poluição e o consumo de energia? Bem, não. Muito pelo contrário. Você já ouviu falar do paradoxo de Jevon? Ou do postulado de Khazzoom-Brookes? Estes afirmam que os avanços tecnológicos para aumentar a eficiência levam a um aumento no consumo de energia, não a uma diminuição. Eficiência faz com que mais energia esteja disponível para outros fins. Quanto mais eficiente nos tornarmos no consumo, mais nós consumiremos. Quanto mais eficientemente trabalharmos, mais trabalho será realizado. E estamos trabalhando com eficiência em enterrar nós mesmos em um buraco.

Economia de oferta e procura

Muitas ações tomadas em nome da sustentabilidade podem ter o efeito oposto. Aqui está algo para refletir: a decisão de uma pessoa de não fazer viagens aéreas, por causa da preocupação com a mudança climática ou a sustentabilidade, não terá qualquer impacto. Se algumas pessoas pararem de fazer viagens aéreas, as companhias aéreas vão reduzir os seus preços, e amplificar sua comercialização, e mais pessoas vão poder fazer viagens aéreas. E porque eles estão fazendo isso a preços mais baixos, a companhia aérea tem de fazer mais vôos para alcançar o lucro que tinha antes. Mais vôos, mais emissões de carbono. E se a indústria enfrentar problemas financeiros, como resultado da demanda reduzida, ela será socorrida pelos governos. Esta estratégia de "escolher recusar" não pode vencer.

A decisão de não fazer viagens aéreas não está fazendo nada para reduzir a quantidade de carbono que está sendo emitida, só faz com que você não esteja participando neste caso. E qualquer pequena redução na quantidade de carbono emitido não faz nada para deter as mudanças climáticas.

Para realmente ter um impacto no clima global, vamos precisar impedir cada avião e cada máquina que queima combustíveis fósseis de operar novamente. E parar cada máquina que queima combustíveis fósseis está longe de ser o objetivo impossível que pode parecer. Não vai ser fácil, mas é definitivamente possível. E não é apenas desejável, mas essencial para que a vida neste planeta sobreviva.

O mesmo vale para qualquer outro produto destrutivo que podemos optar por não comprar. Carne de criadouros industriais, óleo de palma, madeira da floresta, alimentos processados. Enquanto houver produtos a serem vendidos, haverá compradores. A tentativa de reduzir a procura terá pouco, se algum, efeito. Haverá sempre mais produtos que chegando aos mercados. Campanhas para reduzir a demanda de produtos individuais nunca serão capazes de manterem-se. E a cada novo produto, a crença de que este é uma necessidade, não um luxo, se torna cada vez mais forte. Posso convencê-lo a não comprar um smartphone, um laptop, um café? Duvido.

Para interromper a devastação, precisamos cortar permanentemente o fornecimento de tudo o que a produção exige. E visar empresas ou práticas individuais não terá qualquer impacto sobre as estruturas de poder globais que se alimentam da destruição da Terra. Toda a economia global precisa ser levada à um impasse.

O que você realmente quer?

O que é mais importante – energia sustentável para você assistir TV, ou a vida dos rios, florestas, oceanos e animais do mundo? Será que você pode viver sem isso, sem a Terra? Mesmo se isso fosse uma opção, se você não estivesse fortemente ligado na interconectada teia da vida, você realmente preferiria ter eletricidade para suas luzes, computadores e equipamentos, em vez de compartilhar o êxtase de estar com toda a vida na Terra? Um mundo sem vida, governado por máquinas, é realmente o que você quer?

Se conseguir o que você quer requer a destruição de tudo que você precisa - ar e água limpos, comida e comunidades naturais - então você não vai durar muito tempo, e nem ninguém.

Eu sei o que eu quero. Eu quero viver em um mundo que está se tornando cada vez mais vivo. Um mundo em regeneração da destruição, onde todos os anos há mais peixes, aves, árvores e diversidade do que no ano anterior. Um mundo onde eu possa respirar o ar, beber dos rios e comer da terra. Um mundo onde os humanos vivem em comunidade com toda a vida.

A tecnologia industrial não é sustentável. A economia mundial não é sustentável. Valorizar a Terra apenas como um recurso para os seres humanos explorar não é sustentável. A civilização não é sustentável. Se a civilização entrasse em colapso hoje, ainda seria 400 anos antes da existência humana no planeta tornar-se verdadeiramente sustentável. Então, se é sustentabilidade genuína que você quer, destrua a civilização hoje, e continue trabalhando para regenerar a Terra por 400 anos. Este é mais ou menos o tempo que levamos para criar as estruturas destrutivas em que vivemos hoje, então é claro que vai demorar pelo menos esse tempo para substituir estas estruturas por alternativas que beneficiem toda a vida na Terra, e não apenas a minoria rica. Isso não vai acontecer imediatamente, mas isso não é motivo para não começar.

Você pode dizer, vamos apenas abandonar a civilização, construir alternativas, e deixar todo o sistema apenas desmoronar quando ninguém mais prestar qualquer atenção nele. Eu costumava gostar dessa idéia também. Mas isso não funciona. Quem está no poder usa as armas do medo e da dívida para manter seu controle. A maioria das pessoas do mundo não têm a opção de abandonar isso. Seu medo e dívida os mantém trancados na prisão da civilização. Seu abandono não pode ajudá-los. A destruição da estrutura dessa prisão pode.

Nós não temos tempo para esperar o colapso da civilização. Noventa por cento dos grandes peixes nos oceanos desapareceram. 99% das florestas antigas foram destruídas. Todos os dias mais de 200 espécies são extintas, para sempre. Se esperarmos mais, não haverá peixes, nem florestas, nem vida em qualquer lugar na Terra.

O que você pode fazer?

Espalhe a mensagem. Confronte as crenças dominantes. Compartilhe esse artigo com todos que você conhece.

Escute a Terra. Vá conhecer seus vizinhos não-humanos. Cuidem um do outro. Aja coletivamente, não individualmente. Construa alternativas, como economias de dádiva, sistemas policultores de cultivo de alimentos, educação alternativa e governança comunitária. Crie uma cultura de resistência.

Ao invés de tentar reduzir a demanda dos produtos de um sistema destrutivo, corte o fornecimento. A economia é o que está destruindo o planeta, então pare a economia. A economia global é dependente de um fornecimento constante de energia elétrica, por isso pará-la é (quase) tão fácil quanto desligar um interruptor.

Os governos e a indústria nunca vão fazer isso por nós, não importa o quão gentilmente pedirmos, ou quão firmemente pressionarmos. Cabe a nós defender a terra da qual nossas vidas dependem.

Nós não podemos fazer isso como consumidores, ou trabalhadores, ou cidadãos. Precisamos agir como seres humanos, que valorizam a vida mais do que consumir, trabalhar e reclamar do governo.

Nas palavras de Lierre Keith, co-autora do livro Deep Green Resistance, "A tarefa de um ativista não é navegar por sistemas de poder opressivo com o máximo de integridade pessoal possível, é destruir esses sistemas."

---------------------------------------------------------------------------------

Conheça o movimento ambientalista radical Deep Green Resistance: DGR website

Autor: Kim Hill

Tradução: Carlos Teixeira

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

ATINJA ONDE DÓI por Ted Kackzynski



O propósito deste artigo

O propósito deste artigo é apontar um princípio muito simples do conflito humano, um princípio que os oponentes do sistema tecno-industrial parecem estar negligenciando. O princípio é o de que em qualquer forma de conflito, se você quer vencer, você deve atingir seu adversário aonde dói.

Eu tenho que explicar que quando eu falo sobre "atingir aonde dói" eu não estou necessariamente me referindo a golpes físicos ou a qualquer outra forma de violência física. Por exemplo, em um debate oral, "atingir aonde dói" significaria fazer argumentos do qual a posição do seu oponente é a mais vulnerável. Em uma eleição presidencial, "atingir aonde dói" significaria ganhar do seu oponente os estados que tiverem o maior número de votos. Mesmo assim, ao discutir este princípio eu irei utilizar a analogia de um combate físico, porque é vívido e claro.

Se uma pessoa te dá um murro, você não pode se defender atingindo de volta no punho dela, porque você não conseguirá ferir a pessoa dessa forma. Para você vencer a luta, você deve atingir a pessoa aonde dói. Isso significa que você deve passar por trás do punho e atingir as partes sensíveis e vulneráveis do corpo da pessoa.

Suponha que uma escavadeira pertencente a uma madeireira esteja destruindo a mata perto de sua casa e você quer parar com isso. É a lâmina da escavadeira que rasga a terra e derruba as árvores, mas seria uma perda de tempo pegar uma marreta e atingir a lâmina. Se você gastar um longo e duro dia marretando a lâmina, você pode até conseguir danificar a lâmina o suficiente para que ela fique inutilizável. Mas, em comparação com o resto da escavadeira, a lâmina é relativamente barata e fácil de substituir. A lâmina é apenas o "punho" em que a escavadeira atinge a terra. Para derrotar a máquina você deve passar por trás do "punho" e atacar as partes vitais da escavadeira. O motor, por exemplo, pode ser arruinado com muito pouco tempo e esforço por meios bem conhecidos por muitos radicais.

Neste ponto eu devo deixar claro que eu não estou recomendando que alguém deva danificar uma escavadeira (ao menos que seja propriedade sua). Nem qualquer outra coisa neste artigo deve ser interpretada como recomendando atividade ilegal de qualquer tipo. Eu sou um prisioneiro, e se eu fosse encorajar atividade ilegal esse artigo nem sairia da prisão. Eu uso a analogia da escavadeira somente porque é claro e vívido e será apreciado por radicais.

A tecnologia é o alvo

É amplamente reconhecido que "a variável básica que determina o processo histórico contemporâneo é o resultado do desenvolvimento tecnológico" (Celso Furtado). A tecnologia, acima de tudo, é responsável pela atual condição do mundo e irá controlar o seu desenvolvimento futuro. Portanto, a escavadeira que nós temos que destruir é a tecnologia moderna em si. Muitos radicais estão conscientes disso, e sabem então que suas tarefas são eliminar todo o sistema tecno-industrial. Mas infelizmente eles têm prestado pouca atenção para a necessidade de atingir o sistema aonde dói.

Destruir o McDonald's ou o Starbuck's é inútil. Não que eu me importe com o McDonald's ou o Starbuck's. Eu não me importo se alguém os destrói ou não. Mas isso não é uma atividade revolucionária. Mesmo se cada rede de fast-food no mundo fosse arrasada o sistema tecno-industrial sofreria danos mínimos como resultado, já que ele consegue sobreviver facilmente sem redes de fast-food. Quando você ataca o McDonald's ou o Starbuck's, você não está atingindo aonde dói.

Alguns meses atrás eu recebi uma carta de um jovem na Dinamarca que acreditava que o sistema tecno-industrial tinha que ser eliminado porque, em suas palavras, "O que acontecerá se continuarmos dessa forma?" Entretanto, aparentemente sua forma de atividade "revolucionária" era atacar fazendas de peles. Como um meio de enfraquecer o sistema tecno-industrial essa atividade é totalmente inútil. Mesmo se os libertadores de animais tivessem êxito em eliminar completamente a indústria de peles eles não causariam qualquer dano ao sistema, porque o sistema consegue se manter perfeitamente sem peles.
Eu concordo que manter animais selvagens em gaiolas é intolerável, e pôr um fim a tais práticas é uma causa nobre. Mas existem muitas outras causas nobres, como prevenir acidentes de trânsito, prover abrigo para os moradores de rua, reciclagem, ou ajudar pessoas velhas atravessar a rua. Mesmo assim ninguém é tolo o bastante para confundir essas atividades com atividades revolucionárias, ou imaginar que elas fazem algo para enfraquecer o sistema.

A indústria madeireira é um caso à parte

Como outro exemplo, ninguém em sã consciência acredita que qualquer coisa em relação à natureza selvagem conseguirá sobreviver por muito tempo se o sistema tecno-industrial continuar a existir. Muitos radicais ambientalistas concordam que esse é o caso e esperam que o sistema entre em colapso. Mas na prática tudo o que eles fazem é atacar a indústria madeireira.

Eu certamente não tenho objeção aos seus ataques à indústria madeireira. Na verdade, é um assunto que está próximo do meu coração e fico contente por qualquer sucesso que os radicais podem ter contra a indústria madeireira. Mais ainda, por razões que eu preciso explicar aqui, eu penso que a oposição à indústria madeireira deva ser um componente dos esforços para acabar com o sistema.

Mas, por ela mesma, atacar a indústria madeireira não é um modo eficiente de ir contra o sistema, porque mesmo que os radicais consigam parar todo o desmatamento em todo o mundo, isso não iria destruir o sistema. E não iria salvar permanentemente a natureza selvagem. Cedo ou tarde o clima político mudaria e o desmatamento recomeçaria. Mesmo que o desmatamento não recomeçasse, existiriam outras formas nas quais a natureza selvagem seria destruída, ou se não destruída ao menos domada e domesticada. Mineração, chuva ácida, mudanças climáticas e extinção de espécies destroem a natureza selvagem; a natureza selvagem é domada e domesticada por recreação, estudo científico, e gerenciamento de recursos, incluindo entre outras coisas, rastreamento eletrônico de animais, barragem de córregos para a criação de peixes, e plantio de árvores geneticamente modificadas.

A natureza selvagem só pode ser salva permanentemente eliminando o sistema tecno-industrial, e você não consegue eliminar o sistema atacando a indústria madeireira. O sistema sobreviveria facilmente à morte da indústria madeireira porque produtos de madeira, apesar de muito úteis ao sistema, podem se necessário, serem substituídos por outros materiais.
Consequentemente, quando você ataca a indústria madeireira, você não está atingindo o sistema aonde dói. A indústria madeireira é apenas o "punho" (ou um dos punhos) no qual o sistema destrói a natureza selvagem, e, como em uma luta de punhos, você não consegue vencer atingindo o punho. Você tem que passar por trás do punho e atingir os órgãos mais vitais e sensíveis do sistema. Por meios legais, é claro, como protestos pacíficos.

Porque o sistema é forte

O sistema tecno-industrial é excepcionalmente forte devido a sua chamada estrutura "democrática” e sua flexibilidade resultante. Devido ao fato de que sistemas ditatoriais tendem a ser rígidos, tensões sociais e resistências podem crescer ao ponto em que elas danificam e enfraquecem o sistema e podem levar à revolução. Mas em um sistema "democrático", quando a tensão social e a resistência crescem perigosamente, o sistema cede o suficiente, ele abre mão o suficiente, para baixar as tensões a um nível seguro.

Durante os anos de 1960 as pessoas começaram a se dar conta que a poluição ambiental era um problema sério, mais ainda porque a sujeira visível e cheirável no ar sobre nossas grandes cidades estavam começando a deixar as pessoas desconfortáveis. Protestos apareceram e uma Agência de Proteção Ambiental foi criada e outras medidas foram tomadas para aliviar o problema. É claro que todos sabemos que nossos problemas de poluição estão a um longo, longo caminho de serem resolvidos. Mas o suficiente foi feito para que as queixas do público abaixassem e a pressão no sistema fosse reduzida por muitos anos.

Portanto, atacar o sistema é como atacar um pedaço de borracha. Um golpe de martelo pode estilhaçar ferro fundido, porque ferro fundido é rígido e frágil. Mas você pode golpear um pedaço de borracha sem danificá-lo porque ele é flexível: Ele cede espaço diante de um protesto, só o suficiente para que o protesto perca sua força e impulso. E então o sistema cresce de volta.

Então, para atingir o sistema aonde dói, você deve selecionar os assuntos pelos quais o sistema não irá ceder, pelos quais ele irá lutar até o fim. O que você precisa não é um acordo com o sistema, mas uma luta de vida ou morte.

É inútil atacar o sistema em termos de seus próprios valores

É absolutamente essencial atacar o sistema não em termos de seus próprios valores tecnologicamente-orientados, mas em termos de valores que são inconsistentes com os valores do sistema. Enquanto você atacar o sistema em termos de seus próprios valores, você não atinge o sistema aonde dói, e você permite que o sistema reduza o protesto abrindo caminho, recuando.

Por exemplo, se você ataca a indústria madeireira primeiramente com base em que florestas são necessárias para preservar recursos naturais e oportunidades recreativas, então o sistema pode ceder para neutralizar o protesto sem comprometer seus próprios valores: recursos de água e recreação são totalmente consistentes com os valores do sistema, e se o sistema recua, se ele restringe o corte de árvores em nome de recursos hídricos e recreação, então ele apenas faz um recuo tático e não sofre uma derrota estratégica em seu código de valores.

Se você empurra questões vitimizadoras (como o racismo, sexismo, homofobia, ou pobreza) você não está desafiando os valores do sistema e você não está nem ao menos forçando o sistema a recuar ou ceder. Você está ajudando o sistema diretamente. Todos os proponentes mais sábios do sistema reconhecem que o racismo, sexismo, homofobia, e pobreza são prejudiciais ao sistema, e é por isso que o próprio sistema trabalha para combater estas e outras formas similares de vitimização.

"Estabelecimentos escravizantes" com seus baixos salários e condições de trabalho miseráveis, podem dar lucro para certas corporações, mas proponentes sábios do sistema sabem muito bem que o sistema como um todo funciona melhor quando trabalhadores são tratados decentemente. Ao questionar estabelecimentos escravizantes, você está ajudando o sistema, e não o enfraquecendo.

Muitos radicais caem na tentação de focarem-se em questões não essenciais como racismo, sexismo e estabelecimentos escravizantes porque é fácil. Eles escolhem um problema do qual o sistema pode firmar um acordo e o qual vão receber apoio de pessoas como Ralph Nader, Winona La Duke, as uniões trabalhistas, e todos os outros comunistas partidários. Talvez o sistema, sob pressão, irá recuar um pouco, os ativistas irão ver algum resultado visível de seus esforços, e eles terão a ilusão satisfatória de que conseguiram algo. Mas na verdade eles não conseguiram nada em relação a eliminar o sistema tecno-industrial.

A questão da globalização não é completamente irrelevante para o problema da tecnologia. O pacote de medidas políticas e econômicas denominado "globalização" promove o crescimento econômico e, consequentemente, o progresso tecnológico. Mesmo assim, a globalização é uma questão de importância mínima e não um alvo bem escolhido de revolucionários. O sistema pode ceder espaço na questão da globalização. Sem abandonar a globalização por completo, o sistema pode tomar medidas para mitigar as consequências econômicas e ambientais negativas da globalização para neutralizar os protestos. Por quase nada, o sistema poderia até mesmo arcar em desistir totalmente da globalização. O crescimento e progresso mesmo assim continuariam, apenas em um ritmo mais lento. E quando você luta contra a globalização você não está atacando os valores fundamentais do sistema. A oposição à globalização é motivada nos termos de assegurar salários decentes para trabalhadores e proteger o meio ambiente, ambos dos quais são completamente consistentes com os valores do sistema. O sistema, para sua própria sobrevivência, não pode deixar a degradação ambiental aumentar demais. Consequentemente, ao lutar contra a globalização você não atinge o sistema aonde realmente dói. Seus esforços podem promover a reforma, mas elas são inúteis no propósito de abolir o sistema tecno-industrial.

Radicais devem atacar o sistema em pontos decisivos

Para trabalhar efetivamente em direção à eliminação do sistema tecno-industrial, os revolucionários devem atacar o sistema em pontos dos quais o sistema não pode ceder. Eles devem atacar os órgãos vitais do sistema. É claro, quando eu uso a palavra "atacar", eu não estou me referindo a ataque físico, mas somente formas legais de protesto e resistência.

Alguns exemplos de órgãos vitais do sistema são:

A. A indústria de energia elétrica. O sistema é totalmente dependente de sua rede elétrica.
B. A indústria de comunicações. Sem comunicações rápidas, como por telefone, rádio, televisão, e-mail, e assim por diante, o sistema não sobreviveria.

C. A indústria de computação. Todos nós sabemos que sem os computadores o sistema iria prontamente entrar em colapso.

D. A indústria de propaganda. A indústria de propaganda inclui a indústria do entretenimento, o sistema educacional, o jornalismo, a publicidade, as relações públicas, além da política e da indústria de saúde. O sistema não funciona ao menos que as pessoas sejam suficientemente dóceis e conformistas e tenham atitudes que o sistema necessita que tenham. É função da indústria de propaganda ensinar as pessoas esse tipo de pensamento e comportamento.

E. A indústria de biotecnologia. O sistema ainda não está (até onde eu saiba) fisicamente dependente da biotecnologia avançada. No entanto, o sistema não pode deixar de lado a questão da biotecnologia, que é uma questão criticamente importante para o sistema, como eu irei argumentar logo.

Novamente: Quando você ataca esses órgãos vitais do sistema, é essencial não atacá-los em termos dos próprios valores do sistema, mas em termos de valores inconsistentes com aqueles do sistema. Por exemplo, se você ataca a indústria de energia elétrica com base em que ela polui o meio ambiente, o sistema pode neutralizar o protesto desenvolvendo métodos mais limpos de geração de eletricidade. Se o pior acontecesse, o sistema poderia até mesmo mudar totalmente para a energia eólica e solar. Isso pode ajudar bastante para reduzir danos ambientais, mas não ajudaria a pôr um fim ao sistema tecno-industrial. Nem iria representar uma derrota para os valores fundamentais do sistema. Para conseguir qualquer coisa contra o sistema você deve atacar toda a geração de energia elétrica como uma questão de princípio, com base em que a dependência em eletricidade faz as pessoas dependentes do sistema. Isso é um fundamento incompatível com os valores do sistema.

A biotecnologia pode ser o melhor alvo para ataque político

Provavelmente o alvo mais promissor para ataque político é a indústria da biotecnologia. Apesar do fato de que revoluções são geralmente conduzidas por minorias, é muito útil ter algum grau de apoio, simpatia, ou pelo menos consentimento da população geral. Se você concentrasse, por exemplo, seu ataque político na indústria de energia elétrica, seria extremamente difícil conseguir qualquer tipo de apoio além de uma minoria radical, porque a maioria das pessoas resistem a mudanças em seus estilos de vida, especialmente qualquer mudança que seja inconveniente para elas. Por essa razão, poucos estariam dispostos a abandonar a eletricidade.

Mas as pessoas ainda não se sentem dependentes da biotecnologia avançada como elas se sentem com a eletricidade. Eliminar a biotecnologia não irá mudar radicalmente suas vidas. Pelo contrário, seria possível mostrar às pessoas que o desenvolvimento contínuo da biotecnologia irá transformar seus modos de vida e acabar com valores humanos antigos. Portanto, ao desafiar a biotecnologia, os radicais devem conseguir mobilizar a seu próprio favor a resistência humana natural por mudanças.

E a biotecnologia é uma questão da qual o sistema não pode perder. É uma questão da qual o sistema terá que lutar até o fim, o que é exatamente o que precisamos. Mas - para repetir mais uma vez - é essencial atacar a biotecnologia não em termos dos próprios valores do sistema, mas em termos de valores inconsistentes com daqueles do sistema. Por exemplo, se você atacar a biotecnologia, primeiramente com base em que ela pode causar danos ao meio ambiente, ou que alimentos geneticamente modificados podem ser prejudicais à saúde, então o sistema pode e irá amortecer seu ataque cedendo ou recuando - por exemplo, introduzindo maior supervisão em pesquisas genéticas e mais testes e regulamentos rigorosos de plantações geneticamente modificadas. A ansiedade das pessoas irá então acalmar e o protesto irá enfraquecer.

Toda a biotecnologia deve ser atacada como uma questão de princípio

Então, ao invés de protestar contra uma ou outra consequência negativa da biotecnologia, você deve atacar toda a biotecnologia moderna como princípio, com base em por exemplo: (a) que é um insulto a todas as coisas vivas; (b) que ela põe muito poder nas mãos do sistema; (c) que ela irá transformar radicalmente valores humanos fundamentais que têm existido por milhares de anos; e fundamentos similares que são inconsistentes com os valores do sistema.

Em resposta a esse tipo de ataque o sistema terá que levantar e lutar. Ele não possui recursos para se proteger do seu ataque cedendo em qualquer nível que seja, porque a biotecnologia é muito central para todo o empreendimento do progresso tecnológico, e porque ao ceder, o sistema não estará fazendo apenas um recuo tático, mas estará levando uma grande derrota estratégica em seu código de valores. Esses valores estariam minados e a porta estaria aberta para ataques políticos que poderiam destruir as fundações do sistema.

É verdade que a Casa dos Representantes dos EUA recentemente votou para banir a clonagem de seres humanos, e pelo menos alguns congressistas até tinham os tipos de razões certas para isso. As razões que eu li estavam enquadradas em termos religiosos, mas seja o que for o que você pensa sobre os termos religiosos envolvidos, essas razões não eram razões tecnologicamente aceitáveis. E é isso o que importa.

Portanto, os votos dos congressistas sobre clonagem humana foi uma derrota genuína para o sistema. Mas ela foi apenas uma derrota muito, muito pequena, por causa da área estreita da proibição - apenas uma minúscula parte da biotecnologia foi afetada - e já que de qualquer forma para o futuro próximo a clonagem de seres humanos seria de pouco uso prático para o sistema. Mas a ação da Casa dos Representantes sugere que isso pode ser um ponto do qual o sistema é vulnerável, e que um ataque mais amplo em toda a biotecnologia pode causar um dano severo no sistema e em seus valores.

Os radicais ainda não estão atacando a biotecnologia efetivamente

Alguns radicais atacam a biotecnologia, tanto politicamente quanto fisicamente, mas até aonde eu saiba eles explicam sua oposição à biotecnologia em termos dos próprios valores do sistema. Ou seja, suas queixas principais são os riscos de danos ambientais e de ser prejudicial à saúde.

E eles não estão atingindo a indústria da biotecnologia aonde dói. Utilizando uma analogia de combate físico novamente, suponha que você tenha que se defender contra um polvo gigante. Você não poderia contra-atacar efetivamente golpeando as pontas de seus tentáculos. Você tem que atingir na cabeça. Do que eu li de suas atividades, os radicais que trabalham contra a biotecnologia ainda não fazem mais do que golpear as pontas dos tentáculos do polvo. Eles tentam persuadir fazendeiros comuns, individualmente, de não plantarem sementes geneticamente modificadas. Mas existem milhares de fazendas na América, e então persuadir fazendeiros individualmente é um modo extremamente ineficiente para combater a engenharia genética. Seria muito mais eficaz persuadir cientistas que atuam trabalhando em pesquisas biotecnológicas, ou executivos de empresas como a Monsanto, a saírem da indústria biotecnológica. Bons cientistas pesquisadores são pessoas que possuem talentos especiais e treinamento extensivo, e por isso eles são difíceis de substituir. O mesmo é verdade de altos executivos Corporativos. Persuadir somente um pouco dessas pessoas a saírem da biotecnologia causaria mais dano à indústria da biotecnologia do que persuadir mil fazendeiros a não plantarem sementes geneticamente modificadas.

Atinja aonde dói


Está aberta a argumentação se eu estou certo em pensar que a biotecnologia é a melhor questão a qual atacar o sistema politicamente. Mas está além da argumentação de que os radicais atualmente estão gastando muito de suas energias em questões que têm pouca ou nenhuma relevância para a sobrevivência do sistema tecnológico. E mesmo quando eles dirigem-se às questões certas, os radicais não atingem aonde dói. Então ao invés de correrem para a próxima cúpula mundial do comércio para perderem a calma e terem ataques de raiva sobre a globalização, os radicais deveriam gastar mais tempo pensando em como atingir o sistema onde realmente dói. Por meios legais, claro.

Theodore Kackzynski

---------------------------------------------------

Original: Green Anarchy Magazine #8

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

SOBRE AS BASES MÍSTICAS DA "NEUTRALIDADE" DA TECNOLOGIA por Willful Disobedience


... A produção de robôs é naturalmente (ou melhor, anti-naturalmente) acompanhada pelo desenvolvimento de um ambiente adequado apenas para robôs.
-Enciclopédia des Nuisances

Existe uma suposição popular entre os esquerdistas e outros radicais que sentem sempre algum apego pelo conceito de progresso ou inclusive pelas construções teóricas marxistas, de que a tecnologia como tal é neutra. Esta suposição é particularmente divertida porque aqueles que a mantêm acusam os críticos da tecnologia de terem uma concepção mística e não histórica da tecnologia. O que estes apologistas da tecnologia reclamam, é que as criticas promovem o "determinismo tecnológico", fazendo da tecnologia o fator central determinante no desenvolvimento social, e dessa maneira perdendo a visão sobre o fator social. Terminam proclamando que os problemas não procedem do sistema tecnológico como tal, senão de quem os utilizam e como utilizam.

Evidentemente, também há aqueles que têm atribuído poderes determinantes inerentes à tecnologia. Um dos maiores defensores deste ponto de vista foi Marx, cujo economismo foi decididamente um economismo tecnológico. Desde sua perspectiva, a necessidade econômica criou o desenvolvimento tecnológico (tal como o antigo sistema fabril) que posteriormente criou as bases para a substituição do sistema dominante. De tal maneira, o economismo de Marx incorpora também um tipo de determinismo tecnológico.

O erro de Marx repousa precisamente em seu determinismo (uma conseqüência inevitável do fato de que sua critica a Hegel se limitou a virar a ideia de Hegel - um determinista histórico – “com o lado certo para cima” mais que em recusar suas construções básicas). Uma abordagem verdadeiramente histórica, em oposição à mística, da luta social e de todos os fatores mesclados com ela, tem que recusar qualquer forma de determinismo, e partir da idéia de história como atividade humana, no lugar de fazê-lo a partir da idéia de que a história é uma expressão de qualquer valor ou concepção metafísica global. Assim, qualquer produto da história deve ser visto como um produto de seu contexto, em termos de relações sociais concretas nas quais se desenvolve. A partir desta perspectiva, não pode existir tal coisa como tecnologia "neutra".

A tecnologia sempre se desenvolve dentro de um contexto social, com o objetivo explícito de reproduzir esse contexto. Sua forma, seu propósito e suas possibilidades estão determinadas por este contexto, e isto é precisamente o que faz com que a tecnologia não seja neutra. Se entendermos tecnologia como um sistema de técnicas em grande escala (assim como o industrialismo, cibernética, etc), então não conhecemos nenhum sistema tecnológico que não tenha sido desenvolvido dentro de um contexto de dominação, de classes dominantes e exploração. Se Marx, em sua míope visão Hegeliana, pode de alguma maneira ver comunismo num sistema industrial, é unicamente porque sua visão de comunismo era a negação da liberdade individual, a absorção do individuo em "species being" (seres espécie) que se manifestou no processo obrigatório de produção coletiva da fábrica. De fato, o sistema industrial se desenvolveu com um propósito; maximizar a quantidade de benefícios que pode ser obtido de cada minuto de trabalho, aumentando o nível de controle sobre todos e cada um dos movimentos do trabalhador durante a produção. Cada novo desenvolvimento tecnológico dentro do sistema industrial capitalista, simplesmente aumenta o nível de controle sobre os processos, até o ponto onde atualmente todos estão praticamente automatizados, e a nanotecnologia e a biotecnologia estão criando as bases para introduzir esse controle diretamente em nossos corpos, controle a um nível molecular.

Exatamente como as ideologias de qualquer época são a expressão do sistema dominante desse período de tempo, assim a tecnologia de cada época também reflete o sistema dominante. A concepção de que as tecnologias são neutras, e de que podemos nos reapropriar do sistema tecnológico e utilizá-los para nossos fins, é uma concepção mística que concede uma inocência não histórica à tecnologia. Como a ideologia, aqueles sistemas de ideias reificadas através do qual a ordem dominante reforça sua dominação, a tecnologia é um produto da ordem dominante criada para reforçar essa ordem. A destruição da ordem dominante envolve a destruição de sua tecnologia, do sistema de técnicas que ela desenvolveu para reforçar sua dominação.

Até este ponto, os sistemas tecnológicos desenvolvidos pela ordem dominante são tão intrusos e prejudiciais, que pretender que possam ser utilizados para qualquer propósito de libertação é um absurdo. Se Marx, seguindo Hegel, afirmou que a historia teria um final, um fim determinado, nós agora sabemos que este ponto de vista é demasiadamente Cristão para ser de alguma forma verdadeiramente revolucionário.

A revolução é uma aposta, e esta aposta é precisamente que pelo desconhecido, que oferece a possibilidade do fim da dominação e exploração, vale a pena arriscar, e que, correr este
risco envolve a destruição da totalidade deste civilização de dominação e exploração - incluindo seus sistemas tecnológicos - que tem sido tudo que já conhecemos. A vida está em outro lugar. Será que temos a coragem e a vontade de encontrá-la?

 -----------------------------------------------------------------

 
Tradução: ervadaninha - iniciativa anarquista-verde

sábado, 11 de janeiro de 2014

CONTRA A CIVILIZAÇÃO (COMUNICADO 23) por T.H.U.G.


O presente comunicado foi encontrado no local de um recente encontro secreto interrompido em Dover, Delaware, que houve para facilitar a coligação entre a Chevron, Pepsi-CO, Microsoft, o Sierra Club, o Northern New Jersey Federation of Anarcho-Stalinists (Federação Anarco-Estalinista do New Jersey do Norte), Michael Albert e o Institute for Social Ecology (Instituto pela Ecologia Social). Esta perturbação parece ser evidência de que as ideias e ações insurreccionárias anarquistas verdes e anarcoprimitivstas estão a espalhar-se!

Nos é frequentemente dito que os nossos sonhos são irrealistas, as nossas exigências impossíveis, que nós estamos basicamente loucos em sequer propor um tal conceito ridículo como o da “destruição da civilização”. Então, nós esperamos que esta breve declaração possa esclarecer um pouco acerca de porque é que nós não iremos nos contentar com nada menos do que com uma realidade completamente diferente daquela que nos é imposta hoje. Nós acreditamos que as infinitas possibilidades de experiência humana estendem-se tanto para a frente como para trás. Nós queremos o colapso da discordância entre estas duas realidades. Nós lutamos por uma realidade “futura primitiva”, uma que os nossos antepassados uma vez conheceram, e uma que nós podemos vir a conhecer: uma realidade pre/pós-tecnológica, pre/pós-industrial, pre/pós-colonial, pre/pós-capitalista, pre/pós-agrícola, e até pre/pós-cultural – onde nós fomos uma vez, e podemos ser outra vez, SELVAGENS!

Nós sentimos que é necessário levantar algumas questões fundamentais acerca de onde nós estamos agora, como nós chegámos a este ponto, para onde caminhamos, e talvez mais importante, de onde viemos. Isto não deve ser visto como uma prova irrefutável, as Repostas, ou prescrições para a libertação; mas em vez disso, como coisas para se considerar enquanto lutamos contra a dominação ou tentativa de criar outro mundo.

Nós acreditamos que a anarquia seja a última experiência libertadora e a nossa condição natural. Antes, e fora, da civilização (e as suas influências corruptíveis), os humanos eram, e são, na falta de melhores termos, anarquistas. Durante a maior parte da nossa história nós vivemos em grupos de pequeno-porte que tomavam decisões face-a-face, sem a mediação de governo, representação, ou até mesmo da moralidade de uma coisa abstracta chamada cultura. Nós nos comunicávamos, percebíamos, e vivíamos numa forma não mediada, instintiva e direta. Nós sabíamos o que comer, o que nos curava, e como sobreviver. Nós fazíamos parte do mundo a nossa volta. Não existia qualquer separação artificial entre o indivíduo, o grupo, e o resto da vida.

Numa escala mais vasta da história humana, não à muito tempo (alguns dizem 10, 000 a 20, 000 anos atrás), por razões que nós podemos apenas especular (mas nunca realmente saber), um desvio começou a ocorrer em alguns grupos de humanos. Estes humanos começaram a confiar menos na terra enquanto uma “doadora de vida”, e começaram a criar uma distinção entre elas próprias e a terra. Esta separação é a fundação da civilização. Não é na realidade algo físico, apesar de a civilização ter algumas manifestações físicas muito reais; é mais uma orientação, uma mentalidade, um paradigma. É baseada no controle e domínio da terra e dos seus habitantes.

O principal mecanismo de controle da civilização é a domesticação. É o controle, o adestramento, a criação e modificação da vida para benefício humano (normalmente para aqueles que estão no poder ou aqueles que lutam por poder). O processo de domesticação começou a desviar os humanos para longe do modo de vida nômade, em direção a uma existência mais sedentária e estabelecida, que criou pontos de poder (tomando uma dinâmica muito diferente do mais temporal e orgânico solo territorial), mais tarde a ser chamado propriedade. A domesticação cria uma relação totalitária com as plantas e os animais, e eventualmente, outros humanos. Esta mentalidade vê outras formas de vida, incluindo outros humanos, como separadas do domesticador, e é a racionalização para a subjugação das mulheres, crianças, e para a escravatura. A domesticação é uma força colonizadora na vida não-domesticada, que nos trouxe a experiência patológica moderna do máximo controle de toda a vida, incluindo as suas estruturas genéticas.

Um grande passo no processo civilizacional é o movimento em direção a uma sociedade agrária. A agricultura cria um panorama domesticado, um desvio do conceito de “ a Terra providenciará” para “o que é que nós produziremos da Terra”. O domesticador começa a trabalhar contra a natureza e os seus ciclos, e a destruir aqueles que ainda vivem com ela e a compreendem. Nós podemos ver os princípios da patriarquia aqui. Nós vemos os princípios não apenas da concentração da terra, mas também dos seus frutos. Esta noção de posse da terra e dos excedentes cria dinâmicas de poder nunca antes experienciadas, incluindo hierarquias institucionalizadas e guerra organizada. Nós nos deslocamos por um insustentável e desastroso caminho.

Durante os seguintes milhares de anos esta doença progrediu, com a sua mentalidade colonizadora e imperialista eventualmente consumindo a maior parte do planeta com, é claro, a ajuda dos propagandistas religiosos, que tentam assegurar as “massas” e aos “selvagens” que isto é bom e certo. Para benefício do colonizador, as pessoas são colocadas em oposição a outras pessoas. Quando a palavra do colonizador não é suficiente, a espada nunca está longe com a sua colisão genocída. Enquanto as distinções de classe se tornam mais solidificadas, restam apenas aqueles que têm, e aqueles que não têm. Os que tiram e os que dão. Os governantes e os governados. As muralhas são estabelecidas. Isto é como nos é dito que sempre foi; mas a maioria das pessoas de alguma forma sabe que isto não está certo, e sempre houve aqueles que lutaram contra. 

A guerra às mulheres, a guerra aos pobres, a guerra aos indígenas e as pessoas com base na terra, e a guerra ao mundo selvagem estão todas interligadas. Aos olhos da civilização, todos eles são vistos como mercadorias – coisas para serem reclamadas, extraídas, e manipuladas pelo poder e controle. Todos são vistos como recursos; e quando eles não têm mais uso para a estrutura de poder, eles são descartados para os lixões da sociedade. A ideologia da patriarquia é a de controle sobre a auto-determinação e sustentabilidade, da razão sobre o instinto e a anarquia, e da ordem sobre a liberdade e o selvagem. A patriarquia é uma imposição de morte, em vez de uma celebração da vida. Estas são as motivações da patriarquia e da civilização; e durante milhares de anos eles têm moldado a experiência humana em todos os níveis, desde o institucional ao pessoal, enquanto eles devoram a vida.

O processo de civilização tornou-se mais refinado e eficiente a medida em que o tempo passou. O capitalismo tornou-se o seu modo de operação, o medidor da extensão da dominação e a medida daquilo que é ainda necessário para ser conquistado. O planeta inteiro foi mapeado e terras foram cercadas. O estado-nação eventualmente tornou-se o agrupamento social proposto e servia para estabelecer os valores e objetivos de vastos números de pessoas, é claro, para benefício daqueles no controle. A propaganda de estado, e por esta altura, a enfraquecida igreja, começaram a substituir parte (mas certamente não toda) da força bruta com a benevolência superficial e conceitos tais como cidadania e democracia. Enquanto a alvorada da modernidade se aproximava, as coisas estavam a tornar-se realmente doentias.

Ao longo do desenvolvimento da civilização, a tecnologia desempenhou sempre um papel cada vez mais abrangente. Na realidade, o progresso da civilização esteve sempre diretamente ligado ao, e determinado pelo, desenvolvimento de cada vez mais complexas, eficientes e inovadas tecnologias. É difícil dizer se é a civilização que impulsiona a tecnologia ou vice-versa. A tecnologia, tal como a civilização, pode ser vista mais como um processo ou um sistema complexo do que uma forma física. Ela envolve inerentemente divisão do trabalho, extração de recursos e exploração pelo poder (por aqueles que detêm a tecnologia). O cenário com, e resultante da tecnologia é sempre uma realidade alienada, mediada e pesadamente carregada. Não, a tecnologia não é neutral. Os valores e objetivos daqueles que produzem e controlam a tecnologia estão sempre incluídos nela. Diferente de ferramentas simples, a tecnologia está ligada a um processo maior que é infeccioso e é propelido para a frente pelo seu próprio ímpeto. Este sistema tecnológico avança sempre e precisa estar sempre inventando novas formas de suportar, alimentar, manter e vender a si próprio. Uma parte chave da estrutura tecno-capitalista-moderna é o industrialismo; o sistema mecanizado de produção construído sobre o poder centralizado e da exploração das pessoas e da natureza. O industrialismo não pode existir sem genocídio, ecocídio, e imperialismo. Para se manter, a coerção, expulsão de terras, trabalho forçado, destruição cultural, assimilação, devastação ecológica, e a troca global são aceitas e vistas como necessárias. A estandardização da vida pelo industrialismo objectifica-a e torna-a mercadoria, vendo toda a vida como um recurso em potencial. A tecnologia e o industrialismo abriram a porta para a última forma de domesticação da vida – o último estágio de civilização - a era da neo-vida. 

Então agora nós estamos na pós-moderna, neo-liberal, bio-tec, cyber-realidade, com um futuro apocalíptico e uma nova ordem mundial. Iss poderia ser muito pior? Ou foi sempre assim tão mau? Nós estamos quase completamente domesticados, exceto durante alguns breves momentos (tumultos, rastejando através da escuridão para destruir maquinaria ou as infra-estruturas da civilização, conectando-nos a outras espécies, nadando nu em um rio de uma montanha, comendo comida selvagem, fazendo amor, -...adicione os seus próprios favoritos) quando nós temos um vislumbre do que seria nos tornarmos selvagens. A sua “aldeia global” é mais como um parque de diversões global ou um zoo global, e não é uma questão de boicotá-la porque nós estamos todos nela e ela está em todos nós. E nós não podemos apenas nos soltarmos das nossas gaiolas (ainda que estejamos impotentes se não começarmos por aí), mas nós temos que arrebentar com todo o maldito lugar, devorarmos os guardas do zoo e todos aqueles que o gerem e se beneficiam dele, nos ligarmos aos nossos instintos, e nos tornarmos selvagens outra vez! Nós não podemos reformar a civilização, torná-la mais verde, ou torná-la mais justa. Ela é podre até a raiz. Nós não precisamos de mais ideologia, moralidade, fundamentalismo, ou melhor organização para nos salvarmos. Nós precisamos salvar a nós próprios. Nós precisamos viver de acordo com os nossos próprios desejos. Nós precisamos nos ligarmos com nós mesmos, aqueles com que nos preocupamos, e o resto da vida. Nós temos que quebrar, e destruir esta realidade.

Nós precisamos de Ação


Resumindo, a civilização é a guerra à vida. Nós estamos lutando pelas nossas vidas, e nós declaramos guerra à civilização!


T.H.U.G. (Tree Huggin’ Urban Guerrillas)     


------------------------------------------------------------------


Fonte: Green Anarchy Magazine - Back to Basics
Tradução: Coletivo Erva Daninha

sábado, 4 de janeiro de 2014

CONTRA A SOCIEDADE DE MASSAS por Chris Wilson


Por Chris Wilson

Muitas pessoas desejam uma existência livre da autoridade coercitiva, onde cada um estaria em liberdade para fazer as escolhas de sua própria vida, à imagem de suas próprias necessidades, valores e desejos. Para que tal liberdade seja possível, nenhuma pessoa individual pode estender sua esfera de controle sobre a vida dos outros sem a sua escolha. Muitos que lutam contra a opressão no mundo moderno esforçam-se para conceituar “sociedade livre” tentando meramente reformar as mais poderosas e coercitivas instituições de hoje em dia, ou substituí-los por governos “diretamente democráticos”, municipalidades comunitariamente controladas, federações industriais de propriedade do trabalhador, etc. Aqueles que priorizam os valores da autonomia pessoal ou não controlada e existência selvagem têm razões para se opor e rejeitar todas as organizações de grande porte e sociedades com o argumento de que estas necessitam de imperialismo, escravidão e hierarquia, independentemente do propósito para o qual foram criadas.

Os humanos são sociáveis por natureza, mas são seletivos para com quem desejam se associar. Por companheirismo e apoio mútuo, as pessoas naturalmente desenvolvem relacionamentos com aqueles com quem compartilham uma afinidade. Porém, apenas nos últimos tempos as pessoas têm se organizado em agrupamentos de grande porte compostos por estranhos que compartilham poucas e irrelevantemente pouco em comum uns com os outros. Por mais de 99 por cento da história humana, humanos viveram em pequenos e igualitários arranjos familiares estendidos, enquanto extraiam sua subsistência diretamente da terra. Os bandos de coletores e as comunidades hortícolas nômades do passado e do presente são conhecidos por terem desfrutado de extensos tempos de lazer e raramente precisavam de mais de 2 ou 4 horas diárias em média para satisfazerem suas necessidades. Fome e guerra são extremamente raras nessas sociedades. Adicionalmente, saúde física, qualidade dentária e a média do tempo de vida de comunidades de pequeno porte são significativamente maiores que as de sociedades agrícolas e as primeiras sociedades industriais. Líderes são temporários, e não possuem poder além de sua habilidade de persuasão. Enquanto caçadores-coletores e agricultores de corte e queima realizam de fato uma alteração do ambiente local que são por vezes um desperdício, eles precisam provar a si mesmos que são adaptações ecológicas estáveis. A coleta serviu a humanidade por três milhões de anos, enquanto a horticultura vem sendo usada na bacia amazônica por aproximadamente 9.000 anos. As culturas de pequeno porte que restam hoje geralmente preferem seu modo de vida tradicional e muitos estão atualmente empreendendo uma impressionante resistência política contra corporações e governos que querem assimilá-los à força, de modo que sua terra e trabalho possam ser explorados. As pessoas raramente entram em organizações de massa sem serem coagidas, já que isso leva a uma diminuição da liberdade e da saúde.

A ascensão da civilização tornou-se possível por meio da produção em massa compulsória. Quando certas sociedades passaram a priorizar a produtividade agrícola como seu maior valor, eles começaram a submeter à força toda a vida ao alcance de suas cidades para esse fim. Comunidades de pessoas que desejavam coletar ou plantar sobre a terra para subsistência seriam impiedosamente abatidos ou escravizados e os ecossistemas que habitam seriam convertidos em terras agrícolas para alimentar as cidades. Aqueles comprometidos com a facilitação de tempo integral das colheitas e com a produção animal residiriam na zona rural nas proximidades, enquanto os funcionários públicos, comerciantes, engenheiros, militares, funcionários e prisioneiros habitavam as cidades. A tarefa de criar um excedente para alimentar uma classe especialista crescente fez com que as atribuições dos produtores de alimentos se intensificassem, criando, simultaneamente, a necessidade de mais terra, tanto para a agricultura como para a extração de materiais para construção e combustível. Os seres humanos foram forçados a servidão para o benefício de instituições de sua cultura de produção como um pré-requisito para a sobrevivência e a vida não-humana foi tanto explorada como eliminado para a realização de projetos humanos. Para ocupar a terra, uns seriam obrigados a pagar tributo continuamente na forma de um imposto ou dízimo (ou, mais recentemente, na forma de aluguel ou hipoteca), consequentemente exige-se de uns que dediquem a maior parte do seu tempo e energia a uma forma de emprego politicamente aceita. Ao serem obrigadas a satisfazerem as exigências dos proprietários ou empregadores em troca de espaço pessoal e mercadorias, torna-se impossível para as pessoas ganharem a vida através da caça de subsistência ou da horticultura. Embora as comunidades auto-suficientes de pequeno porte resistissem ou fugissem a intrusão de forças militares e comerciais, aquelas que falhassem seriam assimiladas. Posteriormente, elas rapidamente se esquecem de suas práticas culturais, fazendo com que se tornem dependentes de seus opressores para a sobrevivência.

O capitalismo é a atual manifestação dominante da civilização. A economia capitalista é controlada principalmente por empresas subsidiadas pelo Estado, essas organizações são de propriedade de acionistas que são livres para tomar decisões de negócios sem serem considerados pessoalmente responsáveis consequências. Legalmente, as empresas gozam do estatuto de indivíduos e, portanto, o lesado só pode atingir os bens da empresa em um processo judicial, e não os bens de propriedade dos acionistas individuais. Os empregados por essas corporações são legalmente obrigados a perseguir o lucro acima de todas as outras preocupações possíveis (por exemplo, a sustentabilidade ecológica, a segurança do trabalhador, saúde comunitária, etc.) e podem ser demitidos, processados, ou julgados se fizerem o contrário.Como uma forma tecnologicamente avançada da civilização, o capitalismo invade e utiliza ainda maior território, causando redução do espaço disponível para a vida florescer livremente para seus próprios fins. Assim como a civilização, o capitalismo recruta tanto a vida humana como a não-humana à servidão se as considerar útil, e descarta-as se a considerar como o contrário. Sob o capitalismo, a maioria das pessoas passam a maior parte consciente de cada dia (normalmente 8-12 horas) envolvidas em trabalho sem sentido, monótono, arregimentado, e muitas vezes fisicamente e mentalmente prejudicial para obter as necessidades básicas. Indivíduos privilegiados tendem a trabalhar de forma intensiva e extensivamente, normalmente para responder à pressão social ou para satisfazer uma dependência de bens materiais e serviços. Por causa da apatia, alienação e falta de poder que caracteriza a experiência diária comum, a nossa cultura apresenta altas taxas de depressão, doença mental, suicídio, dependência de drogas, e relacionamentos disfuncionais e abusivos, juntamente com numerosos modos de existência indireta (por exemplo, através da televisão, filmes, pornografia, jogos de vídeo-game, etc.).

A civilização, não o capitalismo em si, foi a gênese do autoritarismo sistêmico, servidão obrigatória e isolamento social. Assim, um ataque contra o capitalismo que não consegue atingir a civilização nunca pode abolir a coerção institucionalizada que alimenta a sociedade. Tentar coletivizar a indústria com o objetivo de promover a democratização é deixar de reconhecer que todas as organizações de grande porte adotam uma direção e forma que é independente das intenções dos seus membros. Se uma associação é muito grande para que uma relação face à face entre os membros seja possível, torna-se necessário delegar responsabilidades de decisão aos representantes e especialistas, a fim de alcançar os objetivos da organização. Mesmo que os delegados sejam eleitos por consenso ou por maioria de votos, os membros do grupo não podem fiscalizar todas as ações dos delegados a menos que a organização seja pequena o suficiente para que todos possam acompanhar os outros em uma base regular. Líderes ou especialistas delegados não podem ser responsabilizados por mandatos, nem podem ser atentados para o comportamento irresponsável ou coercivo, a não ser que estejam sujeitos a supervisão frequente por uma ampla seção transversal do grupo. Isso é impossível em uma economia baseada em uma divisão altamente estratificada de trabalho onde determinado indivíduo não pode concentrar-se sobre, ou até mesmo ver, as ações do resto. Além disso, os delegados eleitos irão atribuir mais tempo e recursos para preparar e apresentar um caso para os seus objetivos pessoais, e são, portanto, maiores as chances de ganhar mais poder através do engano e manipulação. Mesmo que o grupo como um todo determine todas as políticas e procedimentos (que em si é impossível quando o conhecimento especializado é necessário), e aos delegados só é atribuída a função de aplicá-las, eles ainda vão agir de forma independente quando eles não concordarem com as regras e estamos confiantes de que eles podem escapar da punição ignorando-as. A democracia é necessariamente representativa, não direta, quando praticada em grande escala - é incapaz de criar organização sem hierarquia e controle.

Como as organizações de massa devem aumentar a produção para manter a sua existência e se expandir, eles tendem a estender de forma imperialista seu âmbito de influência. Porque as cidades e indústrias dependem de insumos externos, eles pretendem aproveitar as áreas circundantes para uso agrícola e industrial, tornando-as inóspitas tanto para os ecossistemas não-humanos como para as comunidades humanas auto-suficientes. Esta área será expandida em relação a qualquer aumento da população ou de especialização de mão de obra que ocorra na cidade. Alguém poderia argumentar que a produção industrial poderia ser mantida e ainda reduzida, deixando aos ecossistemas e aos povos não-industriais algum espaço para co-existir. Em primeiro lugar, esta proposta convida a questão de por que a civilização deve determinar seus próprios limites, em vez de as vítimas de sua predação. Em segundo lugar, não há exemplos históricos de economias de produção que não se expandem, principalmente porque elas precisam se expandir depois de esgotar todos os recursos à sua disposição a qualquer momento.

A complexidade estrutural e a hierarquia da civilização devem ser recusadas, juntamente com o imperialismo político e ecológico que se propaga por todo o globo. Instituições hierárquicas, a expansão territorial, bem como a mecanização da vida são todos necessários para a administração e processo de produção em massa ocorrer. Apenas pequenas comunidades de indivíduos auto-suficientes podem coexistir com outros seres, humanos ou não, sem impor sua autoridade sobre eles.


Chris Wilson

Anti Copyright, 2001.

chrswlsn@yahoo.com

-------------------------------------------------


Fonte: Green Anarchy #6
Original: panfleto Our Enemy Civilization, EUA
Tradução: Carlos Teixeira

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

HÁ QUE ACABAR COM TUDO ISTO! Por Anti-Authoritarians Anonymous


A atual realidade está formada, como nunca esteve, de imensas tristezas e de cinismo: “uma grande lágrima no coração da humanidade”, como disse Richard Rodriguez. O quotidiano vê aumentar a sua dose de horrores sem cessar acompanhada por um apocalipse rompante do meio ambiente. A alienação dos espíritos e os poluentes químicos disputam o predomínio na dialética da morte que rege a vida de uma sociedade dividida e gangrenada pela tecnologia. O câncer, desconhecido antes da civilização, transformou-se numa epidemia numa sociedade cada vez mais estéril e literalmente maligna.

Repentinamente, todos estarão usando drogas; sejam administradas sob regras ou vendidas sob contrabando, isto apenas é uma distinção formal. O Transtorno de Déficit de Atenção é um exemplo do esforço opressivo para medicar a angústia e agitação generalizada causadas por uma vida-mundo cada vez mais atrofiada e insatisfatória. A ordem dominante fará, evidentemente, todo o possível por negar a realidade social. A sua tecnopsiquiatria considera o sofrimento humano como de natureza biológica e de origem genética.

Novas patologias, resistentes à medicina industrial estendem-se à escala planetária da mesma forma que o fundamentalismo (Cristão, Judaico, Islâmico) - sintoma de um sentimento profundo de miséria e frustração. Aqui em casa a espiritualidade New Age (a “filosofia para estúpidos", segundo Adorno), assim como as inumeráveis terapias alternativas, deleitam-se em vãs ilusões. Pretender que pode-se estar completo/iluminado/curado no seio da loucura atual é, de fato, aceitar esta loucura.

O fosso entre ricos e pobres alarga-se, particularmente, nesta terra de sem-tetos e presidiários. A cólera aumenta e as negações em massa, fundamentos da sobrevivência do sistema, estão tendo, no mínimo, um sono conturbado. Este mundo, onde reina a falsidade, encontra apenas a adesão que merece: a desconfiança em direção às instituições é quase absoluta. Mas a vida social parece congelada, e o sofrimento dos jovens é sem dúvida o mais profundo. A taxa de homicídios entre adolescentes de 15 a 19 anos duplicou entre 1985 e 1991. O suicídio transformou-se em reação de procura de cada vez mais adolescentes, que evidentemente não conseguem imaginar a maturidade em um lugar como esse.

A cultura esmagadoramente difundida é uma cultura fast-food, desprovida de conteúdo ou compromisso. Como Dick Hebdige apropriadamente julgou, “a pós-modernidade é a modernidade sem as esperanças e sonhos que tornaram a modernidade suportável”. O pós-modernismo se anuncia como pluralista, tolerante e não dogmático. Na prática, é um fast-forward deliberadamente confuso, fragmentado, obcecado pela mídia, analfabeto, fatalista, excrescência acrítica, indiferente às questões de origens, agência, história ou causalidade. Ela não questiona nada de importante e é a expressão perfeita de uma configuração que é estúpida e suicida, e quer levar-nos com ela.

A nossa época pós-moderna encontra a sua expressão essencial no consumismo e na tecnologia, que dão aos mass media a sua força estupefaciente. Imagens e slogans impactantes e fáceis de digerir impedem de ver o show de horror da dominação que é mantido por este tipo de entretenimento, imagens e frases de fácil digestão. Inclusive os enganos mais flagrantes da sociedade podem servir para esta empresa de hipnose coletiva, como é o caso da violência, fonte de infinitas diversões. Seduzem-nos as representações de comportamentos ameaçantes, o que sugere que o aborrecimento é uma tortura ainda maior que o espanto.

A natureza, ou o que resta dela, serve como um lembrete amargo de quão deformada, insensível e fraudulenta é a existência contemporânea. A morte do mundo natural e a penetração da tecnologia em todas as esferas da vida, ou o que resta dela, desenvolvem-se a um ritmo cada vez mais rápido. A multidão informaticamente conectada, os marginais tecnóides, os ciber-não-importa-quê, a realidade virtual, a inteligência artificial, etc... Até chegar à Vida Artificial, última ciência pós-moderna.

Entretanto, a nossa Era da Computação "pós-industrial" tem como principal consequência a nossa transformação acelerada num "apêndice da máquina", como se dizia no século XIX. As estatísticas do FBI indicam, todavia, que as empresas, cada vez mais informatizadas, são o teatro de cerca de um milhão de delitos violentos por ano, e que o número de patrões assassinados duplicou nos 10 últimos anos.

Esse arranjo hediondo, em sua arrogância, espera que as suas vítimas se contentem em votar, reciclar os seus resíduos e fingir que tudo vai ficar bem. Para usar uma linha de Debord, “o espectador é somente suposto, não tem de saber nada e não merece nada”.

A civilização, a tecnologia e as divisões sociais que dilaceram a sociedade, são componentes de um todo indissolúvel, uma viagem para a morte que é fundamentalmente hostil às diferenças qualitativas. A nossa resposta terá de ser qualitativa, sem fazer caso dos eternos paliativos quantitativos que reforçam, de fato, aquilo que queremos abolir.


------------------------------------------------
(Panfleto de Anti-Authoritarians Anonymous, Eugene, 1995.)
Fonte: Actions Speak Louder Than Words - Derrick Jensen
Tradução: Coletivo Erva Daninha