Sobre este espaço

"Existem maneiras de pensar, agir e viver que possam ser mais satisfatórias, emocionantes, e principalmente dignas, do que as formas como pensamos, agimos e vivemos atualmente?"


Um de nossos tantos desejos... Se algum material que colocamos aqui, de alguma forma, estimular você a pensar ou sentir algo, pedimos de coração para que você use estas ideias. Copie, mude, concorde, discorde. A intenção deste blog é incentivar o questionamento e a intervenção das pessoas na sociedade. Pegue os textos, tire xerox, CONVERSE mais, faça por você, faça por todos nós, faça por ninguém. E se quiser, entre em contato(conosco, c/ qualquer um, com o meio, c/ a natureza...) Coletiva e humilde-mente - vive em paz, revolte-se!

sábado, 11 de janeiro de 2014

CONTRA A CIVILIZAÇÃO (COMUNICADO 23) por T.H.U.G.


O presente comunicado foi encontrado no local de um recente encontro secreto interrompido em Dover, Delaware, que houve para facilitar a coligação entre a Chevron, Pepsi-CO, Microsoft, o Sierra Club, o Northern New Jersey Federation of Anarcho-Stalinists (Federação Anarco-Estalinista do New Jersey do Norte), Michael Albert e o Institute for Social Ecology (Instituto pela Ecologia Social). Esta perturbação parece ser evidência de que as ideias e ações insurreccionárias anarquistas verdes e anarcoprimitivstas estão a espalhar-se!

Nos é frequentemente dito que os nossos sonhos são irrealistas, as nossas exigências impossíveis, que nós estamos basicamente loucos em sequer propor um tal conceito ridículo como o da “destruição da civilização”. Então, nós esperamos que esta breve declaração possa esclarecer um pouco acerca de porque é que nós não iremos nos contentar com nada menos do que com uma realidade completamente diferente daquela que nos é imposta hoje. Nós acreditamos que as infinitas possibilidades de experiência humana estendem-se tanto para a frente como para trás. Nós queremos o colapso da discordância entre estas duas realidades. Nós lutamos por uma realidade “futura primitiva”, uma que os nossos antepassados uma vez conheceram, e uma que nós podemos vir a conhecer: uma realidade pre/pós-tecnológica, pre/pós-industrial, pre/pós-colonial, pre/pós-capitalista, pre/pós-agrícola, e até pre/pós-cultural – onde nós fomos uma vez, e podemos ser outra vez, SELVAGENS!

Nós sentimos que é necessário levantar algumas questões fundamentais acerca de onde nós estamos agora, como nós chegámos a este ponto, para onde caminhamos, e talvez mais importante, de onde viemos. Isto não deve ser visto como uma prova irrefutável, as Repostas, ou prescrições para a libertação; mas em vez disso, como coisas para se considerar enquanto lutamos contra a dominação ou tentativa de criar outro mundo.

Nós acreditamos que a anarquia seja a última experiência libertadora e a nossa condição natural. Antes, e fora, da civilização (e as suas influências corruptíveis), os humanos eram, e são, na falta de melhores termos, anarquistas. Durante a maior parte da nossa história nós vivemos em grupos de pequeno-porte que tomavam decisões face-a-face, sem a mediação de governo, representação, ou até mesmo da moralidade de uma coisa abstracta chamada cultura. Nós nos comunicávamos, percebíamos, e vivíamos numa forma não mediada, instintiva e direta. Nós sabíamos o que comer, o que nos curava, e como sobreviver. Nós fazíamos parte do mundo a nossa volta. Não existia qualquer separação artificial entre o indivíduo, o grupo, e o resto da vida.

Numa escala mais vasta da história humana, não à muito tempo (alguns dizem 10, 000 a 20, 000 anos atrás), por razões que nós podemos apenas especular (mas nunca realmente saber), um desvio começou a ocorrer em alguns grupos de humanos. Estes humanos começaram a confiar menos na terra enquanto uma “doadora de vida”, e começaram a criar uma distinção entre elas próprias e a terra. Esta separação é a fundação da civilização. Não é na realidade algo físico, apesar de a civilização ter algumas manifestações físicas muito reais; é mais uma orientação, uma mentalidade, um paradigma. É baseada no controle e domínio da terra e dos seus habitantes.

O principal mecanismo de controle da civilização é a domesticação. É o controle, o adestramento, a criação e modificação da vida para benefício humano (normalmente para aqueles que estão no poder ou aqueles que lutam por poder). O processo de domesticação começou a desviar os humanos para longe do modo de vida nômade, em direção a uma existência mais sedentária e estabelecida, que criou pontos de poder (tomando uma dinâmica muito diferente do mais temporal e orgânico solo territorial), mais tarde a ser chamado propriedade. A domesticação cria uma relação totalitária com as plantas e os animais, e eventualmente, outros humanos. Esta mentalidade vê outras formas de vida, incluindo outros humanos, como separadas do domesticador, e é a racionalização para a subjugação das mulheres, crianças, e para a escravatura. A domesticação é uma força colonizadora na vida não-domesticada, que nos trouxe a experiência patológica moderna do máximo controle de toda a vida, incluindo as suas estruturas genéticas.

Um grande passo no processo civilizacional é o movimento em direção a uma sociedade agrária. A agricultura cria um panorama domesticado, um desvio do conceito de “ a Terra providenciará” para “o que é que nós produziremos da Terra”. O domesticador começa a trabalhar contra a natureza e os seus ciclos, e a destruir aqueles que ainda vivem com ela e a compreendem. Nós podemos ver os princípios da patriarquia aqui. Nós vemos os princípios não apenas da concentração da terra, mas também dos seus frutos. Esta noção de posse da terra e dos excedentes cria dinâmicas de poder nunca antes experienciadas, incluindo hierarquias institucionalizadas e guerra organizada. Nós nos deslocamos por um insustentável e desastroso caminho.

Durante os seguintes milhares de anos esta doença progrediu, com a sua mentalidade colonizadora e imperialista eventualmente consumindo a maior parte do planeta com, é claro, a ajuda dos propagandistas religiosos, que tentam assegurar as “massas” e aos “selvagens” que isto é bom e certo. Para benefício do colonizador, as pessoas são colocadas em oposição a outras pessoas. Quando a palavra do colonizador não é suficiente, a espada nunca está longe com a sua colisão genocída. Enquanto as distinções de classe se tornam mais solidificadas, restam apenas aqueles que têm, e aqueles que não têm. Os que tiram e os que dão. Os governantes e os governados. As muralhas são estabelecidas. Isto é como nos é dito que sempre foi; mas a maioria das pessoas de alguma forma sabe que isto não está certo, e sempre houve aqueles que lutaram contra. 

A guerra às mulheres, a guerra aos pobres, a guerra aos indígenas e as pessoas com base na terra, e a guerra ao mundo selvagem estão todas interligadas. Aos olhos da civilização, todos eles são vistos como mercadorias – coisas para serem reclamadas, extraídas, e manipuladas pelo poder e controle. Todos são vistos como recursos; e quando eles não têm mais uso para a estrutura de poder, eles são descartados para os lixões da sociedade. A ideologia da patriarquia é a de controle sobre a auto-determinação e sustentabilidade, da razão sobre o instinto e a anarquia, e da ordem sobre a liberdade e o selvagem. A patriarquia é uma imposição de morte, em vez de uma celebração da vida. Estas são as motivações da patriarquia e da civilização; e durante milhares de anos eles têm moldado a experiência humana em todos os níveis, desde o institucional ao pessoal, enquanto eles devoram a vida.

O processo de civilização tornou-se mais refinado e eficiente a medida em que o tempo passou. O capitalismo tornou-se o seu modo de operação, o medidor da extensão da dominação e a medida daquilo que é ainda necessário para ser conquistado. O planeta inteiro foi mapeado e terras foram cercadas. O estado-nação eventualmente tornou-se o agrupamento social proposto e servia para estabelecer os valores e objetivos de vastos números de pessoas, é claro, para benefício daqueles no controle. A propaganda de estado, e por esta altura, a enfraquecida igreja, começaram a substituir parte (mas certamente não toda) da força bruta com a benevolência superficial e conceitos tais como cidadania e democracia. Enquanto a alvorada da modernidade se aproximava, as coisas estavam a tornar-se realmente doentias.

Ao longo do desenvolvimento da civilização, a tecnologia desempenhou sempre um papel cada vez mais abrangente. Na realidade, o progresso da civilização esteve sempre diretamente ligado ao, e determinado pelo, desenvolvimento de cada vez mais complexas, eficientes e inovadas tecnologias. É difícil dizer se é a civilização que impulsiona a tecnologia ou vice-versa. A tecnologia, tal como a civilização, pode ser vista mais como um processo ou um sistema complexo do que uma forma física. Ela envolve inerentemente divisão do trabalho, extração de recursos e exploração pelo poder (por aqueles que detêm a tecnologia). O cenário com, e resultante da tecnologia é sempre uma realidade alienada, mediada e pesadamente carregada. Não, a tecnologia não é neutral. Os valores e objetivos daqueles que produzem e controlam a tecnologia estão sempre incluídos nela. Diferente de ferramentas simples, a tecnologia está ligada a um processo maior que é infeccioso e é propelido para a frente pelo seu próprio ímpeto. Este sistema tecnológico avança sempre e precisa estar sempre inventando novas formas de suportar, alimentar, manter e vender a si próprio. Uma parte chave da estrutura tecno-capitalista-moderna é o industrialismo; o sistema mecanizado de produção construído sobre o poder centralizado e da exploração das pessoas e da natureza. O industrialismo não pode existir sem genocídio, ecocídio, e imperialismo. Para se manter, a coerção, expulsão de terras, trabalho forçado, destruição cultural, assimilação, devastação ecológica, e a troca global são aceitas e vistas como necessárias. A estandardização da vida pelo industrialismo objectifica-a e torna-a mercadoria, vendo toda a vida como um recurso em potencial. A tecnologia e o industrialismo abriram a porta para a última forma de domesticação da vida – o último estágio de civilização - a era da neo-vida. 

Então agora nós estamos na pós-moderna, neo-liberal, bio-tec, cyber-realidade, com um futuro apocalíptico e uma nova ordem mundial. Iss poderia ser muito pior? Ou foi sempre assim tão mau? Nós estamos quase completamente domesticados, exceto durante alguns breves momentos (tumultos, rastejando através da escuridão para destruir maquinaria ou as infra-estruturas da civilização, conectando-nos a outras espécies, nadando nu em um rio de uma montanha, comendo comida selvagem, fazendo amor, -...adicione os seus próprios favoritos) quando nós temos um vislumbre do que seria nos tornarmos selvagens. A sua “aldeia global” é mais como um parque de diversões global ou um zoo global, e não é uma questão de boicotá-la porque nós estamos todos nela e ela está em todos nós. E nós não podemos apenas nos soltarmos das nossas gaiolas (ainda que estejamos impotentes se não começarmos por aí), mas nós temos que arrebentar com todo o maldito lugar, devorarmos os guardas do zoo e todos aqueles que o gerem e se beneficiam dele, nos ligarmos aos nossos instintos, e nos tornarmos selvagens outra vez! Nós não podemos reformar a civilização, torná-la mais verde, ou torná-la mais justa. Ela é podre até a raiz. Nós não precisamos de mais ideologia, moralidade, fundamentalismo, ou melhor organização para nos salvarmos. Nós precisamos salvar a nós próprios. Nós precisamos viver de acordo com os nossos próprios desejos. Nós precisamos nos ligarmos com nós mesmos, aqueles com que nos preocupamos, e o resto da vida. Nós temos que quebrar, e destruir esta realidade.

Nós precisamos de Ação


Resumindo, a civilização é a guerra à vida. Nós estamos lutando pelas nossas vidas, e nós declaramos guerra à civilização!


T.H.U.G. (Tree Huggin’ Urban Guerrillas)     


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Fonte: Green Anarchy Magazine - Back to Basics
Tradução: Coletivo Erva Daninha

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